terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Onisciência x Livre-arbítrio - Parte 1

Este é um paradoxo que desenvolvi um tempo atrás.Diferente do que pode sugerir o título, o foco do paradoxo não é a onisciência de algum deus contra o nosso livre-arbítrio, e sim a onisciência desse deus contra seu próprio livre arbítrio.
Primeiro, vamos definir os termos.Entendamos por onisciência a capacidade de saber tudo, passado, presente e, principalmente, futuro.Portanto, um ser onisciente sabe tudo que ocorrerá no futuro, até o fim dos tempos.Sua sapiência em relação a esse assunto é total, ou seja, infalivelmente, ele sabe o que ocorrerá em qualquer ponto do futuro.E entendamos por liberdade a capacidade de algum ser fazer aquilo que quer e deixar de fazer aquilo que quer, sem que seja compelido a isso.O problema do determinismo é tratado ao longo do texto.

Vou pegar um ser para usar como exemplo.Juliana encontra-se numa sorveteria, e tem dois sabores de sorvete para escolher tomar, morango e chocolate.Juliana afirma ser totalmente livre na sua escolha, então ela diz que pode escolher qualquer um dos dois sabores, mas vai escolher aquele que mais a agrada, o de morango.Como saberemos que Juliana não está escolhendo este sabor apenas porque esta escolha já foi determinada por acontecimentos passados, dentro de um sistema determinista a que ela está imersa? Não poderemos afirmar com certeza, pois não temos meios de comprovar se Juliana poderia realmente deixar de escolher este sorvete e escolhe o outro sabor, dadas as mesmas condições em que se encontrava no momento da escolha.Mas, felizmente, este não é o foco da minha argumentação.

Suponhamos que Juliana, enquanto conversa com seus amigos na sorveteria, afirme ser possuidora de um fantástico poder : ela pode prever o futuro.Juliana se diz onisciente e, para provar, ela afirma que previu que daqui a um dia, ela estaria novamente em uma sorveteria, e iria escolher um sorvete com sabor de chocolate.É justamente aqui que encontramos o problema.

Juliana se diz onisciente e livre, mas pretendo mostrar que estas características são incompatíveis, ou seja, não podem vir juntas em um ser.Para provar, vamos supor que ambas são verdadeiras, e encontrar as contradições que isso nos evidenciará.

Se Juliana realmente for onisciente, então sua previsão, a de que um dia dali para frente, ela estará numa sorveteria tomando um sorvete de chocolate, irá se realizar, pois assim é a onisciência, tudo que é previsto, é realizado.Porém, Juliana também diz ser livre, ou seja, pode deixar de fazer aquilo que quer, caso queira, então poderá ela deixar de escolher o sorvete de chocolate, se quiser? Vamos analisar ambas as situações :

a) Juliana deixa de escolher o sorvete de chocolate : Se Juliana é livre, então ela pode deixar de escolher o sorvete de chocolate se quiser, mas veja que isso compromete totalmente a sua onisciência, pois ela havia previsto que escolheria o sorvete de chocolate.Torna-se, então, impossível afirmarmos que Juliana realmente é onisciente, pois sua previsão foi um fracasso (o que ela previu, não se realizou)

b) Juliana escolhe o sorvete de chocolate : Se a onisciência de Juliana é plena, tudo que ela prevê, acontece, então ela nunca poderá deixar de escolher o sorvete de chocolate.Ora, mas se ela não pode deixar de escolher este sabor de sorvete, então ela não pode se definir como livre, pois não poderá fazer algo, ela terá, de qualquer jeito, que escolher este sabor de sorvete, independente de sua vontade, pois uma prerrogativa básica da onisciência plena é que o futuro é totalmente determinista, definido pelas condições do presente, imutável, portanto.Se é assim que as coisas funcionam, então podemos concluir que nosso presente é totalmente dependende de condições do passado, desde o começo dos tempos.Sendo assim, toda a minha vida já estava definida antes mesmo deu ter pensado em existir.

Uma onisciência plena traz consigo a necessidade de um futuro imutável, determinado, e este cenário é totalmente incompatível com o livre-arbítrio, pois todas as minhas futuras escolhas já estão decididas por eventos que ocorrerão antes, até mesmo, do meu nascimento.Minha vida já está traçada, minha vontade já está determinada, não tenho qualquer controle sobre ela.Sendo assim, liberdade e onisciência são duas características que só funcionam em cenários bem distintos, e totalmente opostos, não podendo estar ambas presentes numa mesma configuração de realidade.

Podemos aplicar essa idéia a qualquer ser, seja uma pessoa ou um deus que interfere na sua criação.E é simples visualizar isso, pois, se este deus é onisciente, então todo o futuro de sua criação já está determinado no momento que ele a cria.Se ele interfere em sua criação, como executar milagres para pessoas, por exemplo, estas suas ações já estão determinadas desde o exato momento que ele cria todo este Universo, portanto, ele paga um preço pela sua onisciência : perde sua liberdade.
Se no momento que ele dá vida à sua criação, as suas ações sobre essa criação já estão definidas, ele não poderá deixar de não fazer estas ações, ou isso comprometeria sua onisciência.Se ele fizer estas ações, isso compromete sua liberdade.

Infelizmente, esse argumento tem um erro fácil de ser notado : é necessária uma noção de tempo, antes e depois, passado, presente e futuro, para que funcione.Se eu postular um deus extra-temporal, o argumento perde o sentido.Mas, se eu postular um deus extra-temporal, isso vai comprometer outra coisa : NOSSO livre-arbítrio, de uma maneira irrevogável e definitiva.Em outro post eu demonstro porque.

Este argumento não é de todo inútil, apesar de não servir exatamente para deuses, serve muito bem para pessoas que dizem ter o poder de ver o futuro, coisa que não é raro.Todos gostam de se acharem livres, então argumente desta forma com uma pessoa assim, pergunte-lhe se está disposta a sacrificar sua liberdade em prol do seu poder.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Primeiro Motor Imóvel e Ser Necessário e Ser Contigente

Seguindo na série argumentos famosos, continuo analisando os argumentos de Tomás de Aquino sobre o ponto de vista cético.No post anterior, analisei apenas o segundo de seus argumentos, ou 'Sergunda Via', como é chamado, por ser um dos mais utilizados por teístas para tentar invocar deus de uma maneira lógica.Agora, examino o primeiro e o terceiro argumentos, ou 'Primeira Via' e 'Terceira Via'.
Podia tê-lo feito juntamente com o post anterior, mas decidi não, pois tornaria o post muito grande, e a leitura desinsteressante.Mas poderia pois estes três primeiros argumentos são basicamente o mesmo argumento, mas com palavras e conceitos diferentes.
Vejamos :

1a. via - Primeiro Motor Imóvel Nossos sentidos atestam, com toda a certeza, que neste mundo algumas coisas se movem. Tudo o que se move é movido por alguém, é impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente, logo há que ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido, e um tal ser todos entendem: é Deus.

3a. via - Ser Necessário e Ser Contingente Existem seres que podem ser ou não ser, chamados de contingentes, isto é cuja existência não é indispensável e que podem existir e depois deixar de existir. Todos os seres que existem no mundo são contingentes, isto é, aparecem, duram um tempo e depois desaparecem. Mas, nem todos os seres podem ser desnecessários se não o mundo não existiria, alguma vez nada teria existido, logo é preciso que haja um Ser Necessário e que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser.


Ambos foram retirados do mesmo lugar que o argumento anterior.

Lendo a Primeira Via atentamente, vemos que 'motor' carrega basicamente a mesma idéia que a 'primeira causa', de sua Segunda Via.
Tomás afirma que, no nosso mundo, existem coisas que se movem.Uma coisa provoca movimento em outra, e assim numa série regressiva.Imaginemos uma mesa de sinuca, onde a bola azul está se movendo e cai na caçapa.Voltando atrás 'no tempo', vemos que a bola azul foi movida pela bola amarela, que por sua vez foi movida pela bola preta, que por sua vez foi movida pela bola branca, que por sua vez foi movida pelo taco do jogador.O jogado, portanto, foi o primeiro motor, embora ao pé da letra, ele não tenha sido movido por outras coisas também, mas abstratamente, podemos afirmar que ele foi o motor primeiro dessa série de movimentos.

Tomás, neste argumento, apela novamente para o problema da série infinita : se houvesse uma série infinita de bolas, cada uma colidindo com uma outra, nunca poderíamos visualizar uma bola em específico se movendo, pois sempre teríamos que retornar no tempo, infinitamente, de modo que, logicamente, essa série não poderia se sustentar sozinha.Torna-se necessária, então, a postulação de uma 'primeira bola', que não foi movida por ninguém, mas iniciou essa série de movimentos.

É um argumento bom, lógico, mas... onde está deus nisso? Porque Tomás deliberadamente afirma que esse primeiro motor que não foi movido é deus? Veja que ele simplesmente afirma que esse motor é um 'ser', e todos nós concordamos que este 'ser' é deus.
O argumento, por si só, serve para demonstrar que houve um primeiro motor que não foi movido por nada, mas ele não dá o direito a quem o usa a definir esse primeiro motor, a atribuir-lhe características.Eu não posso afirmar que esse ser é onisciente, ou que ele ouve nossas preces, ou que ele nos ajuda, ou que ele tem vontade deliberada, ou simplesmente qualquer outra característica.

Porque não afirmar que o primeiro motor foi o Big Bang, e ponto final? Ou que foi uma flutuação quântica de vácuo que moveu o Big Bang, e ponto final? Porque tem que ser um ser, e porque esse ser é imune ao argumento, ou seja, porque é JUSTAMENTE ELE que tem que ser o motor imóvel? Como garantir que ele também não foi movido por alguém, ou algo, que por sua vez foi também movido por alguém, ou algo, até que no final dessa série, tenhamos apenas um 'algo' desconhecido movendo tudo?

Como eu afirmei, apenas com uma boa dose de fé para engolir este argumento.

Agora, passemos para a Terceira Via.Mais uma vez, Tomás apela para o problema da regressão infinita.Ele afirma que tudo o que existe no mundo tem de ser fundamentado em alguma outra coisa, que não é fundamentada em coisa alguma, pois senão não resolveríamos o problema da regressão infinita.
Alguma semelhança com o 'motor imóvel'? Alguma semelhança com a 'primeira causa'? Todas, afinal, como afirmei, são o mesmo argumento, escritos com outras palavras.

Como de praxe, Tomás resolve este problema postulando que esta alguma coisa e deus, e ponto final, fim do argumento.Como engolir isso sem uma boa dose de fé? Como aceitar isso se você não acredita em deus, já que o argumento, por si só, nada evidencia da existência deste?

Existe diversas outras hipóteses para explicar a existência das coisas físicas, uma que eu mesmo cheguei a conclusão é de que tudo pode ser nada.Isso resolve, de maneira simples, a pergunta 'De onde veio tudo?'.Esse tudo é tudo e nada, ao mesmo tempo.
Imaginemos que tudo o que exista no Universo sejam partículas (o que não deixa de ser uma inverdade), mas apenas dois tipos de partículas, um elétron e um pósitron, sua antipartícula.O 'Universo' é apenas uma coisa abstrata, é apenas a maneira pela qual nos referimos às partículas, é apenas o conjunto delas.O elétron tem carga -e, e o pósitron tem carga +e.Para cada elétron neste Universo, existe um pósitron.
Pergunta : qual a carga total desse sistema? 0, ou seja, considerando todo o Universo, não existe carga, e existe, ao mesmo tempo.Isso porque +e-e=0, independente de quantos elétrons-pósitrons existam, pois sendo 'm' o número de elétrons que existem e 'n' o número de pósitrons, ((m)+e) + ((n)-e) = 0, pois m = n, como eu havia afirmado.
Agora suponhamos que todas as características do elétrons sejam 'anticaracterísticas' no pósitron.A massa o elétron seja anulada pela 'antimassa' do pósitron, e assim por diante.
Pergunta : O que existiria neste Universo? Nada, pois cada elétron se anularia com um pósitron, e restaria absolutamente nada, literalmente.Mas as coisas existem, embora no total, nada exista.

Isso responde a pergunta : 'De onde veio tudo?'.Não veio de lugar nenhum, pois tudo é nada, só que uma outra forma de nada.

Porque não considerar essa explicação, em lugar da de Tomás de Aquino? A minha, pelo menos, é mais científica.Porque não considerar outras explicações que tratam da mesma questão? Porque aceitar que esse algo necessário seja deus, e não simplesmente qualquer outra coisa sem vontade deliberada, sem inteligência, sem quaisquer outras características atribuídas a deus?

Repito, mais uma vez : estes argumentos apenas se fundamentam quando há fé.Sem fé, toda a lógica se demonstra ilógica.

Em um futuro post, analiso os outros dois argumentos restantes.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Causa Primeira ou Causa Eficiente

Um dos argumentos defendidos por Tomás de Aquino chama-se Causa Primeira, ou Causa Eficiente.Uma síntese do que diz esse argumento pode ser encontrado aqui, mas transcreverei-o :

Causa Primeira ou Causa Eficiente Decorre da relação "causa-e-efeito" que se observa nas coisas criadas. Não se encontra, nem é possível, algo que seja a causa eficiente de si próprio, porque desse modo seria anterior a si prórpio: o que é impossível. É necessário que haja uma causa primeira que por ninguém tenha sido causada, pois a todo efeito é atribuída uma causa, do contrário não haveria nenhum efeito pois cada causa pediria uma outra numa sequência infinita e não se chegaria ao efeito atual. Logo é necessário afirmar uma Causa eficiente Primeira que não tenha sido causada por ninguém. Esta Causa todos chamam Deus. Assim se explica a causa da existência do Universo.

Este argumento é bastante lógico, e bastante utilizado por diversos teístas para darem suporte a sua afirmação de que deus existe, mas ele tem várias falhas, e uma análise apurada nos leva a concluir que este argumento é, basicamente, inútil para a conclusão a que querem chegar.

O primeiro ponto a ser considerado é que o argumento tem como conclusão que houve uma causa primeira para o Universo.Mas e daí? No que isso nos ajuda a concluir que essa causa é alguma espécie de ser inteligente? Em nada ajuda, pois este argumento não se preocupa em qualificar esta primeira causa, ele serve apenas para nos levar a concluir que tem que ter havido uma primeira causa, mas nada diz sobre ela.É desnecessário, portanto, um argumento para isso, já que, praticamente todos, aceitam que o Universo teve uma causa, e investigam a Natureza a fim de deduzir que causa foi essa, qualificando-a, coisa que este argumento não faz.Portanto, de nada nos serve esse argumento para afirmar que um ser inteligente foi a causa do Universo.

O segundo ponto a ser considerado é que, por pura fé, apenas o Universo necessita de uma causa, mas não deus.Em outras palavras, teístas acreditam que o Universo é um efeito, portanto, requer uma causa, e postulam deus como a causa primária, a causa incausada, e assim terminam a argumentação, como se isso fosse algo auto-evidente.Mas não é.Porque deus não necessitaria de uma causa também? Quais evidências tenho para afirmar que é deus, apenas, a causa incausada, e não um supra-deus, que teria criado deus, que teria criado o Universo? Ou ainda, um supra-supra-deus, e assim sucessivamente.Poderia até mesmo supor que a primeira causa não tenha sido inteligente, com vontade deliberada, mas esta tenha dado origem a um ser inteligente, e este tenha dado origem ao nosso Universo.
Vou exemplificar melhor.Suponhamos que exista um MicroUniverso, criado por algum cientista.Seres atômicos povoam este MicroUniverso, e, após certo tempo de existência, eles adquirem inteligência e começam a questionar os motivos de sua existência.Alguns microseres, então, postulam que houve uma primeira causa, antecendente a seu MicroUniverso, e esta causa foi um ser inteligente, que o criou a partir de vontade deliberada.Esta afirmação estaria correta? Sim, e não, pois de fato foi um ser inteligente que criou este MicroUniverso, mas ele não foi a causa primeira, pois muitas outras causas antecederam este ser inteligente, que culminaram neste ser, que então pôde criar este MicroUniverso.Seria errado, portanto, atribuir a qualidade de 'causa primeira', ou 'causa incausada' a este cientista.
O mesmo raciocínio pode ser transportado para a nossa realidade.Nenhuma evidência pode ser utilizada para inferir que o Universo precise de uma causa, mas a causa do Universo não precise de nenhuma.E nem o argumento trata de responder essa questão.

O terceiro ponto a ser considerado é que este argumento não é válido se analisado com bastante atenção, pois ele utiliza, como premissa, um fato constatado por análise da realidade, para deduzir algo que antecede a realidade.Veja que é utilizado a regra da 'causa e efeito', que diz que toda causa necessita de um efeito, mas esta regra pertence a nossa realidade, ela está inserida dentro do nosso Universo.Para nós, todo efeito tem uma causa, e podemos chamar essa lei de uma lei implícita.Logo, é sem sentido que eu utilize esta lei, que está contida no Universo, para afirmar que o próprio Universo precisa de uma causa, pois assim eu estaria, em outras palavras afirmando que antes de existir o Universo, existia a necessidade de causas para efeitos, ou seja, que antes de existir o Universo, esta lei já existia.Se tudo o que havia antes do Universo era algum ser inteligente, então este ser inteligente estaria subjulgado a uma lei que já existia antes dele mesmo.Não poderia, portanto, este ser inteligente ser a causa primeira de coisa alguma, pois já existia algo antes dele.Utilizar esta lei para afirmar que o Universo precisa de uma causa é como dar um tiro no próprio pé, pois isto invalida drásticamente o argumento.

Para finalizar, é importante notar que este argumento de nada tem valor sem uma boa dose de fé.Isto é perceptível já no primeiro ponto que considerei, pois quem utiliza este argumento qualifica esta primeira causa da maneira que lhe parece mais conveniente.Um cristão qualifica-a como o deus cristão.Um muçulmano qualifica-a como seu deus islâmico.Esta primeira causa adquire uma faceta diferente, dependendo de quem utilize o argumento.Porém, existe uma característica em comum a todas as intepretações dessa primeira causa, que é a de um ser inteligente, e com vontade deliberada, independente de suas outras características que lhe serão atribuídas dependendo de quem esteja utilizando o argumento.Mas ainda assim o argumento se mostra inútil, pois ele não trata nem mesmo destas duas características básicas, pois uma causa primeira pode muito bem ser algo débil, sem vontade, sem inteligência.Sem contar que, baseado no terceiro ponto que foi considerado, o Universo pode simplesmente não necessitar de causa alguma, já que esta relação causa-efeito é algo inerente ao próprio Universo, e não faz sentido afirmar que antecede o próprio, ou necessitaríamos encontrar transportar o questionamento 'quem é a causa primária?' do Universo para a própria lei da causa-efeito, e assim nos enrolariamos novamente, já que se a lei de causa-efeito necessita de uma causa, então, novamente, existiria uma lei de causa-efeito antes da própria lei de causa-efeito, e todo o argumento se torna sem sentido, a partir daí.

Assim são os cinco argumentos de Tomás de Aquino, sem sentido e todos com a necessidade de uma boa dose de fé para serem engolidos.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Liberdade e Ateísmo

É certo que o ateísmo confere certa liberdade aos que adotam sua filosofia.O ateu não mais se vê diante dos olhos incansáveis de um ente supremo que o seguem até nos momentos de maior intimidade, não mais necessita se sentir culpado ao 'cometer' atos de extrema insignificância, que muitos julgam serem pecados mortais, não mais precisa deixar de gostar de determinadas coisas porque uma deidade em específico desaprova-a, não mais precisa seguir mandamentos que muitas vezes não entende, e até discorda, embora acredite que deva manter essa discordância muda, seguindo cegamente tais ensinamentos, muitas vezes por medo, outras por ambição pelo tão sonhado prêmio eterno.Em resumo, o ateu pode tirar o encéfalo da inércia e começar a usá-lo para julgar, concordar, discordar, opinar.

Não que teístas não possam fazer tais coisas.Obviamente podem, e o fazem.Mas, convenhamos, as restrições são bem maiores.Só por acharem que duvidar da existência de sua divindade já é uma heresia, podemos perceber.Estando mais abertos a novas opiniões, a novos modos de pensar, o ateu (ou pelo menos aquele que duvida, mesmo mantendo a crença, embora seja um paradoxo) acaba apreciando um grau de liberdade mais notável do que o dogmatizado.

É claro que o ateu não é o ser mais livre desse mundo.Claro que não experimentamos a liberdade plena, enquanto os teístas ficam encarcerados dentro de suas convicções inatingíveis por dúvidas.Até porque liberdade plena é algo teórico, e não prático.
O que acontece é que o ateu tem um poder maior de julgamento, que rompe os simplórios limites dos ensinamentos de um livro milenar.O ateu experimenta o poder de entender aquilo que necessita ser estudado, e não simplesmente aceita porque um ser mágico disse que é assim que tem que ser.
Justamente por essa capacidade, somos maus vistos, pois julgam-nos como devassos, puramente hedonistas, sem quaisquer valores, sem moral, pois estes que julgam, acham que valores e moral podem apenas ser extraídos de seu livro sagrado.Acreditam que a moral absoluta está escrita nas páginas de um livro velho, e todos aqueles que não compactuam com esse livro, não seguem essa moral absoluta, logo, são sodomistas.Estes acham que não há motivos, por exemplo, para um ateu ser solidário com um próximo, pois: 1) ele não teme um deus e 2) ele não acredita no céu.Se ele não teme um deus, então não tem porque ele ser solidário, já que Deus nos manda ser solidários, e quem não for, sofrerá as consequências.Se ele não acredita no céu, então não tem porque ele ser solidário, já que Deus diz que apenas os solidários vão para o céu.Logo, nada impede o ateu de chutar o próximo, em vez de dar-lhe roupas de frio ou alimento.
Uma frase muito interessante, que infelizmente não lembro a quem pertence, diz que 'Se agimos bem por medo ou esperando uma recompensa, então somos uma espécie bem medíocre'.Uma pessoa que alimenta tais pensamentos em relação a um ateu com certeza acredita que só existem estes dois motivos para se agir bem, por medo ou por ambição.Se ela acredita que existem apenas estes dois motivos, então podemos concluir que ela age por pelo menos um desses motivos.Ou ela é solidário porque teme o inferno, ou almeja o céu.Que moral é essa? Que valores são esses? Ajudar o próximo apenas porque isso vai lhe garantir uma passagem para o céu? Isso é ser bom?
Se Deus existir, e for justo, então com certeza vai preferir o altruísmo de um ateu, que o faz sem esperar nada em troca, tanto fisica quanto transcendentalmente, a um ato altruísta forçado de um crente, que o faz porque isso vai lhe garantir o céu.Se Deus preferir este último, então não é um ser justo, e acho que vou estar bem melhor no inferno, bem longe dele.

Ateus não são destruidores, assassinos ou pessoas sem compaixão só porque não acreditam que uma boa ação lhe renderá frutos no pós-vida.E também, como os teístas, estamos sujeitos a regras.Todos vivemos em sociedade, e para que ela funcione bem, são necessárias leis.Todos devem estar sujeitos a estas leis.Existem dois tipos de leis, as implícitas e as explícitas.Leis explícitas são aquelas que são traduzidas pro papel.Matar, por exemplo, na nossa sociedade, é um crime, e a pessoa que cometeu tal crime irá pagar com o encarceramento e consequentemente, com o afastamento da sociedade (pelo menos em tese).Mas não matar também pode ser considerada uma regra implícita em uma outra sociedade.A dos babuínos, por exemplo.Um conselho de babuínos não decidiu que matar é algo errado e que os babuínos não devem praticar tal ato, mas mesmo assim babuínos não saem por aí matando seus semelhantes.E a explicação é simples : se fizessem isso, não teria como existir uma sociedade de babuínos, pois eles não poderiam andar juntos, ou brigariam até a morte de um.Sozinhos, são muito mais vulneráveis do que unidos.Essa é uma regra implícita, que existe devido a estrutura da sociedade.Para que haja uma sociedade por mais simples que seja, um conjunto de leis implícitas se faz necessário, entre eles, não matar seus semelhantes.
Portanto, todos, ateus ou não, estamos sujeitos a estas regras.Caso descumpramos uma ou mais, devemos pagar as penalidades que democraticamente são escolhidas (pelo menos em tese).E assim a sociedade vai caminhando, de maneira pacífica.

Imagine um cenário onde todos vivem felizes, com um teto em cima de suas cabeças, com a barriga cheia.Todos vivem pacificamente, amigavelmente, todos curtindo suas vidas da melhor maneira possível.É um cenário utópico? Pelo menos eu acredito que sim.A pergunta é: dogmas religiosos se fazem necessário para que tal cenário se cumpra? Pelo menos eu acredito, veementemente, que não.O que é preciso para que cheguemos o mais perto possível desse cenário? Educação + Leis + Líderes honestos.Tudo começa com uma boa educação.Eu não tive educação religiosas, no entanto, não sinto uma necessidade incontrolável de beber sangue humano, vontade que alguns acreditam que os ateus partilham, simplesmente por serem ateus.Uma boa educação para as crianças, um conjunto bom de leis para que a sociedade funcione e líderes honestos para fazê-las serem cumpridas, e teremos um bom lugar para se viver.Não existe necessidade de religiões.

Um amigo meu acredita que a religião é boa para manter as pessoas mais pobres nos eixos.É uma maneira interessante de pensar, e, por outro lado, muito prosaica.O que é melhor: que mantenhamos as pessoas mais simples em grilhões de crenças sem sentido, ou que façamos investimentos para educar estas pessoas simples, tornando-as mais críticas, e, consequentemente, chegando mais perto do nosso cenário utópico? Sem contar que religião não previne nada, e os apenas 1% do total da população carcerária dos EUA serem ateus, confirma isso.Mais de 95% do nosso país se declarando como pertencente a alguma religião, mas sendo, pelo menos o meu estado, um dos mais violentos do mundo, confirma mais ainda.

Deixo então uma conclusão, e uma idéia: ateus não são seres malignos loucos por almas humanas, pelo contrário, o ato altruísta de um ateu é muito mais belo do que o de um teísta, que pode esconder segundas intenções por trás, e derrubemos igrejas e construamos mais escolas.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tabula Rasa - Parte 1

Os seres humanos são compostos de duas partes, simplificadamente falando, que são a parte biológica e a parte psicológica.Entenda-se psicológica como a cultura que agregamos, o conhecimento que armazenamos etc.
Nossa parte biológica está definida pelos incontáveis genes que compõe nosso código genético.Nosso corpo é a projeção daquilo que está codificado em nossos genes.Obviamente que, ao longo de nossa vida, podemos modificar nosso corpo, mas inicialmente, nosso DNA nos fornece tudo aquilo que bilhões de anos de evolução julgou ser necessário para que sobrevivamos.
Dentro desse DNA, também está codificada a nossa segunda parte componente, nossa psicológico.Nascemos com capacidade para... Com capacidade para falar, com capacidade para aprender, com capacidade para agregar cultura.Não nascemos conhecedores das palavras ou das leis, por exemplo, temos apenas capacidade para aprender.Logicamente, quem nos ensinarão estas coisas que devemos saber serão outros humanos.

Analisando essa forma simplificada de enxergar a condição humana, o que podemos concluir? Bom, podemos concluir que nascemos como uma folha em branco, como uma 'Tabula Rasa', como definiu John Locke, pelo menos em termos culturais, lingüísticos.Após essa conclusão, pensemos : o que defini um ser humano? Podemos ter a definição da espécie Homo Sapiens Sapiens observando apenas nosso componente biológico.O código genético que possuímos, ou fenotipicamente, nossas características, nos definem, biologicamente, como esta espécie.Podemos tentar uma definição mais ousada, e definir como humanos aqueles seres que tem potencial para aprender.Mas logo vemos que essa definição é falha, porque diversos animais tem potencial para aprender várias coisas, como os cachorros, que podem ser adestrados.Podemos então definir humanos como aqueles seres que possuem capacidade de comunicação.Mas ora, chimpanzés também podem se comunicar, visto que vivem em sociedades que por vezes são excepcionalmente complexas.Outra definição que podemos dar para a palavra humanos engloba aqueles conhecimentos que aparentemente apenas nós podemos dominar, como o poder de fazer ciência, ou o raciocínio lógico-matemático.

Se adotarmos essa definição para humanos, podemos automaticamente inferir, dado as premissas anteriores, que não nascemos humanos, somos TORNADOS humanos por outros humanos.Em palavras mais simples, se ser humano significa dominar o conhecimento que aparentemente apenas nós podemos dominar, e tendo em vista que não nascemos com esse conhecimento, apenas o aprendemos ao longo de nossa vida, então não nascemos humanos, nos tornamos humanos ao longo de nosso aprendizado.Nascemos como uma espécie animal, e assim permanecemos até que tomemos parte em alguma cultura, até que comecemos a demonstrar nossa habilidade para o aprendizado.Em suma, nada, inicialmente, nos separa dos animais, em termos biológicos.Temos potencial para linguagem, para o aprendizado, sim, mas como argumentei anteriormente, animais também tem potencial para aprendizado, para a linguagem.Nosso potencial aparentemente é bastante superior, mas isso é apenas uma questão de grau.Os olhos de um gavião são muito melhores do que o de um pequeno canário, mas ambos continuam sendo aves, e ambos continuam sendo animais.Sem contar que essa é apenas uma questão de ferramentas de sobrevivência.Temos potencial superior para aprendizagem, mas morcegos possuem ecolocalização, cães possuem ótimo faro e audição.

Nascemos sem qualquer distinção de qualquer outro animal (na minha opinião, continuamos sem distinção de qualquer outro animal durante toda a nossa vida, até a morte, mas alguns cismam em nos colocar em uma posição superior a dos animais, não admitindo que todos fazemos parte do mesmo saco, mas isso é irrelevante no momento) e permanecemos assim até que nos seja passada nossa cultura característica.

Mas, afinal, para que serve isso tudo que estou falando?

Para demonstrar o quão sem sentido são afirmações como 'Todos nascemos crendo em um deus'.Certa vez, assistindo a um documentário sobre uma mulher atéia, que criava os filhos sem impôr-lhes uma educação religiosa, que foi passar uns dias na casa de uma família cristã, me deparei com a declaração da dona de casa cristã 'É um absurdo o que ela [a moça atéia] faz com seus filhos, pois todos nascemos com a crença em Deus'.A frase não foi absolutamente essa em sintaxe, mas em semântica sim.
Não foi apenas uma vez que, em debates, teístas afirmaram que, por exemplo, uma criança abandonada numa ilha, sozinha, sem qualquer contato com os humanos, apresentaria atitudes semelhantes a credores em deus, ou seja, que essa criança, ao crescer, alimentaria uma crença numa divindade, porque essa crença já estava inserida em sua psiquê desde o nascimento.

Esse tipo de afirmação demonstra desconhecimento em várias áreas do conhecimento, como Biologia, Antropologia, Sociologia.Porque alguns crêem em um ou mais deuses, e como isso provavelmente começou?

Deixo pro próximo post.

domingo, 12 de outubro de 2008

Graças a Deus!

Quando nos curamos de uma doença grave, ou quando tudo corre bem, afirmam "É graças a Deus".E quando não nos curamos, ou tudo corre mal, é graças a quem?
Ousam dizer que "Há males que vêm para o bem", e fazem certas analogias como "Um pai não tem de punir o filho para que aprenda? O mesmo faz Deus conosco!".Mas é quando essa punição é fatal, ou irreversível, ou nada me traz de aprendizado? Quando estou dirigindo tranquilamente por uma estrada, e um caminhão desgovernado destrói meu carro, juntamente comigo, me proporcionando uma morte terrível, exatamente o que eu aprendi (ou deveria ter aprendido?) Ou quando tomo um tiro de uma bala perdida e fico entrevado numa cama, tetraplégico, pro resto da vida, o que supostamente Deus queria me ensinar? Que eu não devo andar pelas ruas? Que eu devo me trancar em meu quarto e evitar contato com esse mundo violento?
E quando nasço de uma família extremamente pobre, e sou obrigado, quando criança, a cavucar nos lixões para achar 'comida'? O que será que Deus está tentando me ensinar? Sim, porque isso certamente tem de ser um castigo, já que eu não consigo ver o lado bom de se ter que catar comida no lixo, por mais que tente (acredito que nem o mais ferrenho dos otimistas conseguiria dizer o lado bom disso).Ou quando nasço com uma deficiência mental, ou até mesmo física, e sou obrigado a assistir crianças pequenas correndo serelepe pra lá e pra cá, aproveitando sua energia da infância, enquanto necessito ficar sentado na minha cadeira de rodas, porque minhas pernas não respondem?
Se temos livre-arbítrio, deveriam todos ter chances iguais para poder, a partir dessas chances, decidir o que fazer.Mas se eu já nasço com uma deficiência física que me impedirá de ser um jogador de basquete, por exemplo, meu grande sonho de infância, onde está exatamente a o livre-arbítrio? Não foi Deus quem decidiu que eu nasceria assim? Ou será que fui eu próprio, antes de nascer, que escolhi ter essa vida? Parece-me tolice pensar dessa maneira.Se Deus já escolhe como nascerei antes mesmo de nascer, então o livre-arbítrio encerra-se aí.Não é possível conciliar liberdade com essa idéia.Alguns cristãos afirmam que desafortunados são, na verdade, mais afortunados que os saudáveis, pois 'Deus tem um plano especial para eles'.Novamente, a liberdade ferra-se, pois não fui eu que escolhi esse plano, foi Deus quem o escolheu pra mim.Se me perguntassem 'Você prefere ser rico, morar no conforto e ter o que quiser comer, com bastante fartura, ou prefere ficar com o plano especial de Deus, onde você nasce pobre, tendo que pedir esmolas pra se alimentar, e dormir na rua passando frio, mas ganha um desconto de 90% na quantidade de boas ações que deveria fazer pra ir para o céu?', eu mandaria Deus enfiar o plano dele lá naquele lugar (se é que a divina santidade tem aquele lugar, mas como somos sua imagem e semelhança, então é provável que tenha.Eu só fico a me perguntar que serventia tem isso pra ele).

E para os que acreditam que desgraças só acontecem com infiéis, por favor, www.google.com.br , e boa pesquisa.
O post me parece meio incompleto, num momento mais oportúnuo, incluo mais incongruências divinas (ou seriam incongruências bem humanas?)

Louvemos ao todo poderoso, protetor dos ricos e bem afortunados!

Ps.: O post foi mais direcionado aos cristãos, mas acredito que se encaixa bem para qualquer deus que se julgue justo e milagreiro.

sábado, 11 de outubro de 2008

Porque a fé não é racional?

O grande problema, considero eu, das crenças teísticas é um que a maioria compartilha : o proselitismo.Além deste, a dogmatização.Teístas, convencidos de serem donos da verdade absoluta, saem em militância afim de converter o máximo possível.Durante essa 'árdua missão', claro, não poderia faltar o preconceito para com aqueles que não fazem parte de suas ideologias.
Cristãos convencidos de que só quem louva Deus pode experimentar o amor, acreditam que ateus e demais teístas (que são, basicamente ateus, do ponto de vista cristão) são seres frios e desprovidos de afeição pelo próximo, já que é impossível algum sentimento nobre como amizade e respeito com o próximo germinar no coração de um ser onde há ausência de Deus (e, acredite, já fui acusado disso).

Mas não quero me aprofundar nessa questão, este foi apenas um parágrafo introdutório.Quero me ater em outro ponto, na falta de razão total das crenças.Como comecei a introduzir em um artigo anterior, à um deus são atribuídas diversas explicações para diversos fatos.Um cristão, por exemplo, que segue a bíblia, acredita ser Deus o criador do Universo, dos planetas nele presentes, da vida, além de diversos outros milagres que lhe são atribuídos.Note que não faz absolutamente qualquer sentido atribuir a Deus tais feitos, e demonstro porquê.

É importante salientar que os cristãos acreditam ser Deus intocável pela ciência, ou seja, não podemos, de forma alguma, provar que determinado fato é proveniente de uma causa divina, pois não podemos ter acesso a essa causa.Se X fosse um fato qualquer, não poderíamos afirmar que ele deriva de D, uma causa divina, pois D não poderia ser detectada pela nossa ciência.Por isso acredita-se que os milagres são fatos que não possuem qualquer explicação racional, ou natural, já que, sendo derivado diretamente de uma causa divina, este fato pareceria, para nós, como advindo do nada, de lugar algum.
Peguemos, novamente, o fato X.O fato X pode ser simplesmente qualquer coisa, para exemplificar, vamos adotar que X seja a emergência da vida na Terra.Constatado que a vida existe na Terra, temos que X é um fato válido.Aplicando a causalidade, podemos inferir que X deriva de um outro fato, chamemos Z, que causou a vida na Terra (obviamente não foi um fato isolado o responsável, mas vamos simplificar).Z permanece desconhecido para nós, embora saibamos que ele tem de existir, pois todo a todo efeito está atrelado uma causa (não quero entrar também nos méritos de discussões sobre causalidade.Vamos partir da premissa que ela é válida).Portanto, temos X e temos o conhecimento de que Z existe, e provocou X.Qual é a posição sensata, ante a ignorância em relação a Z? Eu diria, por acreditar que esta é a posição sensata, que devemos invocar hipóteses para podermos tentar desvendar Z.Munido de possíveis explicações, utilizando conhecimentos anteriores, devemos pesquisar Z para podermos definí-la completamente.Enquanto estudo Z, não sei o que ela é, não adoto uma explicação como verdadeira até ter provado, e mesmo após ter provado, minha explicação permanece questionável para qualquer um que discorde da minha definição.Durante todo esse processo, eu permaneço totalmente neutro em relação a Z, afinal, não sei do que se trata.
Agora, o que faz um teísta em relação a um fato X qualquer, cuja causa desconhece? Simples, ele assume que foi um deus e pronto.Muito simples, poupa bastante trabalho, não é preciso formular hipóteses, estudar, gastar tempo pesquisando.Ele apenas assume que foi uma causa divina, confecciona uma estátua deste ser divino que provocou X e reza pra ela.Onde está a razão nisso? Onde está o sentido nisso? Onde está a sensatez nisso?

Diante de um mistério, por mais complexo que seja, a posição sensata é sempre pesquisar.Não importa quanto tempo leve, nem quanto esforço irá custar.Muitos acreditam que existe um prazo de validade para um mistério.Se eu pesquiso por 50 anos e não descobri a causa, então automaticamente passa a ser efeito divino.Se eu desconheço a explicação de um mistério, os teístas riem de mim e se vangloriam de saber a resposta : Deus.Como já postei antes, durante um debate com um teísta, ele afirmou que minha resposta 'Não sei' para a sua pergunta 'Como o Universo surgiu' é demonstração de 'preguiça intelectual'.Sou obrigado a conhecer a explicação de todos os mistérios do mundo, senão sou simplesmente um preguiçoso.É claro que ele sabia a resposta pra essa pergunta, 'Foi Deus', ora essa, como não haveria de ser?

Apesar do que alguns afirmam, a maioria não assume deus como uma HIPÓTESE, o que, para mim, é algo totalmente plausível.Assumir deus como uma hipótese que pode explicar a causa de um fato é se manter neutro a essa causa, e estar estudando-a com a finalidade de descobrí-la.Porém, quando eu não faço sexo porque está escrito na bíblia que Deus é contra sexo fora do casamento, eu não estou assumindo Deus como uma hipótese, estou tomando como premissa que ele existe, já que a bíblia supostamente é sua palavra, e se eu a sigo, e porque acredito na validade dela, logo, acredito que Deus existe.

Qualquer tipo de fé é sem sentido, pois a premissa básica é acreditar em algo que não pode ser provado e que nunca poderá ser provado.Adotar isto como uma explicação para a causa de um fato é absolutamente ridículo.Adotar uma divindade como hipótese, é perfeitamente compreensível.Eu mesmo não ouso descartar uma explicação divina para a emergência do Universo, pois não é científico inferir a inexistência de algo.Apenas me reservo ao direito de considerá-la a menos implausível dentre outras explicações.

Em síntese, diante de um fato, afirmar que sua causa é divina por desconhecermos sua causa não é sensato.Primeiro porque não podemos provar que a causa é divina, então não vai passar de pura fé.Segundo, porque, como dizia Carl Sagan, 'Ausência de evidência não é evidência de ausência', ou seja, não é porque ainda desconhecemos a causa de um fato, que ela não existe.Como os teístas assumem como premissa básica que uma causa divina não pode ser detectada, então os fatos que não possuem causas naturais, são automaticamente adotados como milagres.O problema está em adotarem prematuramente que um fato não possue causas naturais.Como eu posso afirmar que um fato não tem causas naturais? Se teletransportasse para o passado uma televisão, os pobres humanos não iriam fazer idéia de como explicar aquilo naturalmente.Isso significa então que a televisão foi obra divina? Não existe um meio de afirmar que algo não possue causas naturais, pois não temos conhecimento de todos os mecanismos do Universo.Se soubéssemos TUDO a respeito do Universo, e pudéssemos provar que o que sabemos é REALMENTE TUDO, aí sim poderíamos adotar algo como um milagre se não soubéssemos explicar, já que, aí sim, este fato não possuiria causas naturais.Mas sabemos quase nada sobre o Universo, então onde está a sensatez em antecipadamente decidir que algo não tem uma causa natural?

A fé é, portanto, algo ilógico e irracional.Se alguém quer ser ilógico e irracional, que seja apenas dentro da sua cabeça.Mas querer enfiar sua falta de lógica e sua irracionalidade goela adentro dos outros é algo digno de pena.Pior ainda é dogmatizar crianças, cujo senso crítico ainda não está formado, com falta de lógica de irracionalidade.Que tal deixar a decisão de ser ilógico ou irracional para quando esta criança tiver idade suficiente para decidir o que quer da vida? Se crianças acreditam em Papai Noel, é óbvio que irão acreditar em qualquer baboseira que os adultos lhe ensinarem.E assim segue o ciclo memético da fé.

sábado, 4 de outubro de 2008

Razões para um deus - Explicativas

Acredito existirem duas razões básicas para devotar crença em um deus, e são elas a capacidade explicativa que uma entidade divina tem sobre o mundo natural e a capacidade reconfortante que a idéia de um deus pode exercer sobre a psiquê de um indivíduo.Caso existam outras razões, provavelmente são derivações desses dois motivos básicos.

Primeiramente, introduzo minha linha de raciocínio sobre a razão explicativa.O homem, ser pensante, se encontra diante de uma realidade, e tendo noção de sua existência dentro dessa realidade, tenta descrevê-la, entendê-la, conceituá-la.Os motivos para tal investida intelectual não se fazem importantes, tanto pode ser como tentativa para dominar essa realidade ou pura curiosidade.A questão principal é que o homem tenta descrever essa realidade, com os recursos que forem acessíveis.Podemos entender melhor essa questão lendo um livro sobre mitologia.Como minha preferida é a grega, utilizo-a como exemplo.Diante da realidade, os gregos, ainda sem conhecimento científico como o conhecemos, descreviam o que viam, o que sentiam, o que lhes era habitual, através de divindades específicas.os poetas eram os responsáveis por alcançar o patamar divino e de lá trazer as explicações para o mundo natural, através das Musas, que eram as divindades que 'sopravam' estas explicações para os poetas e poetisas.Os gregos descreviam sua realidade personificando as causas, os eventos, em divindades.O movimento habitual do Sol no céu era a carruagem do deus Apolo, responsável por carregar consigo o Sol de um extremo ao outro do céu.Os terremotos e erupções vulcânicas eram a ira de Poseidôn (Netuno), senhor dos mares e dos abalos sísmicos.Até mesmo o tempo tinha uma personificação, Cronos (Saturno).Natural esperar que as representações dessas divindades eram em formas humanas, podendo o deus se metamorfozear.
Não era possível aos gregos, séculos antes de Cristo, saber que os abalos sísmicos eram resultante do movimento das placas tectônicas, ou que os trovões não eram raios de Zeus (Júpiter), e sim nuvens carregadas eletricamente colidindo umas com as outras, ionizando o ar a sua volta e gerando o estrondo característico.O recurso que tinham a disposição era apenas a imaginação, o poder de filosofar e criar mitos para explicar o mundo natural.
Esta é, portanto, a primeira das razões que julgo existirem para conceber um deus : explicação.A vida é cheia de mistérios, o Universo idem, nada mais humano que tentar desvendá-los para poder entendê-los.Perceba que cada deus sempre carrega consigo uma carga de efeitos atribuídos a si.Um deus que não serve para explicar nada é um deus inútil.Para os ignorantes em relação a Teoria da Evolução (ou simplesmente para os que não querem aceitá-la por irem contra a idéia do deus criador), a vida é obra resultante da divindade a quem rogam culto.Para explicar um evento aparentemente sem explicação racional, recorrem a deus.O que, muitas das vezes, beira ao ridículo absoluto, como os 'mistérios' dos santos em janelas ou das formigas escrivãs.

Concuindo, portanto, todos têm necessidade de definições.Todos necessitam viver num mundo onde as coisas estão definidas, onde a causa de efeitos é conhecida.Uns admitem não saber a explicação de alguma coisa, e humildemente pesquisam para descobrir.Outros, apavoram-se por não saber a explicação de um determinado evento e rapidamente 'culpam' o sobrenatural.Já debati com um teísta que julgou que minha resposta 'Não sei' para a sua pergunta 'Como o Universo surgiu' era 'preguiça intelectual' da minha parte.Certamente, a resposta dele 'Foi Deus', não demonstra absolutamente preguiça intelectual nenhuma.Talvez falta total de intelectualidade.

Deus se faz necessário, para alguns, para explicar certos aspectos da realidade.Na minha humilde opinião, atribuir explicações a uma divindade é de um primitivismo incomparável.Não menosprezando os que isso fazem, muito menos fazendo pouco dos fabulosos mitos de diversas civilizações, até porque recursos melhores para esquadrinhar a realidade lhe eram ausentes.Deuses nada explicam.Atribuir a existência da vida, ou do Universo, a um deus, é explicar exatamente o que? Como 'Foi Deus' pode ser a explicação de alguma coisa? Como podem existir pessoas que se contentam com esse tipo de resposta? Longe de mim querer impor um necessidade profunda de querer saber das coisas nas pessoas, mas é realmente difícil compreender.

No próximo post, viso argumentar acerca da segunda razão que faz deus ser necessário para alguns, a razão emocional.E, antes, ou após, posto sobre as três categorias principais a que enquadro os deuses existentes, no âmbito explicativo, isto é, como podemos juntar os deuses em três categorias, utilizando como seletor, os mistérios que estas divindades visam explicar.

sábado, 27 de setembro de 2008

Verdade Objetiva x Verdade Subjetiva

Aproveitando o embalo sobre subjetividade e objetividade, resolvi escrever mais uma vez sobre o tema, antes da segunda parte do artigo sobre Realidade Objetiva e Subjetiva.Trato, agora, do tema 'verdade', tema este que tem sido motivo de discussões infindáveis ao longo dos séculos.Meu foco principal é argumentar que, diferente do que algumas correntes filosóficas postulam, nem todas as verdades existentes e nem todas que ainda irão vir a existir são totalmente subjetivas, não existindo, portanto, qualquer verdade objetiva.

A argumentação é bem simples, e serei bem conciso.No artigo anterior, a primeira parte, argumentei que a existência de uma realidade objetiva é algo necessário para que possam existir estruturas subjetivas.Não vou me alongar nesse tema, já que o tudo que havia para ter falado, já foi dito no supracitado artigo.
Conceituo verdade como um fato irrefutável derivado de uma estrutura qualquer (em se tratando de realidade).A gravidade, por exemplo, um fato, é uma verdade dentro da estrutura que está imersa, no caso, o Universo.Ela é irrefutável pois, dentro de suas especificações, sempre acontece e todos os seres e coisas estão sujeitos a essa verdade, aceitando ela ou não, acreditando nela ou não.Portanto, a gravidade é uma verdade física do nosso Universo.Porém, a gravidade pode ser questionada.Para mim, ela é atuante, já que estou preso na Terra, e percebo isso.Mas imagine um louco internado no hospício.Suponhamos que em sua cabeça, ele formule uma realidade onde não existe gravidade, e que ele voa livremente por aí.Quem estará certo, eu ou o louco? Qual será a realidade válida, eu ou a da pobre lunático? Eu direi que é a minha, ele dirá que é a dele.É difícil decidir, filosoficamente é uma questão pertinente, que chega a incomodar, se entendida sua profundidade.Sendo assim, a gravidade deixa de ser uma verdade objetiva e passa a ser simplesmente mais uma verdade subjetiva? Não sei, e esse não é o ponto onde quero chegar (discutir quais verdades são objetivas e quais são subjetivas).Apenas dei uma introdução, para poder chegar no ponto principal.

Como garanti a existência de uma realidade objetiva, irrefutável, necessária para que existam estruturas subjetivas, então existem verdades derivadas dessa realidade objetiva.Existem pares de causa-efeito pertencentes a essa realidade que são obrigatoriamente absolutos, ou então essa realidade objetiva seria apenas mais uma entre tantas outras subjetivas possíveis.Se é apenas uma outra realidade subjetiva, então devemos ir um nível acima e descobrir outra realidade potencialmente objetiva, com seus pares, portanto, de verdade absoluta.

Uma analogia, para ser mais claro... No exemplo anterior, não posso afirmar se a gravidade é uma verdade absoluta, pois ela parece atuante para mim, mas não para o pobre lunático no hospício.Como não tenho meios de definir qual realidade é objetiva, posso considerar que ambas sejam subjetivas.Ainda que ambas sejam subjetivas, haverá uma realidade objetiva pode detrás de nossas duas realidades subjetivas, e dentro dessa realidade subjetiva, poderá haver um fato derivado dela, no caso, uma 'gravidade' objetiva, atuante, absoluta.Essa 'gravidade' deverá ser irrefutável, pois é intrínseca a estrutura, esta, objetiva, portanto, irrefutável também.

Apesar da existência dessas verdades objetivas pertencentes a uma realidade objetiva estar garantida, não podemos precisar duas coisas : primeiro, quais verdades são objetivas, absolutas (isso é devido ao fato de não podemos definir se uma realidade é objetiva ou não) e segundo, quantas realidades subjetivas existem, nem qual é a última realidade, a objetiva.Isso parece ser impossível pois sempre podremos postular que existe um nível de realidade acima do nosso.A realidade do louco, do exemplo, seria a realidade subjetiva primeira.A realidade dele está imersa dentro da minha realidade, que poderia ser a realidade subjetiva segunda, ou a realidade objetiva única.Como posso provar que minha realidade não é apenas uma outra subjetiva, como a do louca, havendo uma realidade objetiva única acima da minha, ou uma outra realidade subjetiva terceira?

Esse, entretanto, não é o foco da discussão também.Apenas quis demonstrar que a existência de verdades objetivas é algo garantido, devido a garantia que temos da existência de realidades objetivas.Uma realidade demanda uma estrutura, uma estrutura demanda fatos que compõe ela própria.Estes fatos, por definição, compõe um conjunto de verdades, pertencentes a essa estrutura.Chamamos esses conjuntos de verdades.Como essa realidade objetiva garantida é a realidade final, única, e ela é tudo o que existe, então esses fatos estão acima de qualquer subjetivação, sendo, portanto, puramente objetivos.

Concluo, portanto, que verdades absolutas necessitam existir, embora sejamos incapazes, pelo menos por enquanto, de definir quais são elas, como são ou quantas são.Esse artigo, de quebra, também responde a um artigo antigo que postei aqui.

sábado, 20 de setembro de 2008

Realidade subjetiva x Realidade objetiva - Parte 1

Normalmente, em discussões, me deparo com argumentos do tipo "A realidade é uma ilusão" ou "Você não pode provar que não sou apenas fruto da sua imaginação" ou ainda "Você não pode provar que você mesmo existe".Esse tipo de pensamento pertence àqueles que acreditam que a realidade é puramente subjetiva, inteiramente criada pela mente humana.Somos, então, uma grande ilusão, criada por nossas próprias mentes.Quem já viu Matrix sabe que 'se real é aquilo que você pode tocar, ouvir, cheirar, então real são impulsos elétricos enviados ao seu encéfalo, interpretados pelo próprio, gerando assim a realidade que em que você acredita'.Isso tem, de fato, um fundo de veracidade, mas esse argumento está longe de evidenciar que somos apenas ilusões, e que a realidade objetiva não existe.

Até mesmo o mais voraz defensor da subjetividade é obrigado a aceitar a existência de uma realidade objetiva.Peguemos o exemplo clássico, aquele em que tudo ao seu redor, o computador que está agora a sua frente, a cadeira em que está sentado, seus amigos, os carros que trafegam na rua, tudo é apenas um fruto da sua imaginação.Nada tem existência real, portanto, a realidade objetiva é totalmente subjetiva.Há uma falha fatal neste pensamento : o ser subjetivador, você, não pode estar unicamente dentro dessa realidade subjetiva.Em outros termos, você não pode unicamente ser fruto da sua própria imaginação, pois isso cria um paradoxo.Seria como você estar sonhando com você, mas você existe apenas dentro daquele sonho, e não fora dele.Como poderia então, estar sonhando algo?



O agente subjetivador, chamemos assim, tem, por necessidade, que estar da sua própria realidade subjetiva (ele pode ter uma projeção de si dentro dela, obviamente, mas a raiz da subjetivação tem de vir de fora).Estando fora da realidade subjetiva, temos duas situações possíveis : ou ele está imerso em outra realidade subjetiva, ou ele faz parte de uma realidade objetiva.Caso ele faça parte de uma outra realidade subjetiva, tem de haver outro agente subjetivador que está criando aquele realidade.Novamente, temos dois casos : ou esse agente faz parte de uma outra realidade subjetiva, ou de uma realidade objetiva.Como parece lógico, não pode haver uma estrutura infinita de agentes subjetivadores sem um agente final que esteja fora dessa cadeia de realidades, imerso em uma realidade estruturalmente objetiva, criando toda essa cadeia.



A partir do momento que temos a existência de uma realidade objetiva como fato, resta-nos perguntar como é essa realidade objetiva.Seria apenas um encéfalo coberto pelo mais absoluto nada, criando uma realidade subjetiva? Isso parece meio estranho.Essa explicação é fraca, e essa realidade objetiva necessita de uma estrutura, da mesma forma que a realidade subjetiva necessita de uma, para existir.
Em termos mais simples, como grande fã de Matrix, vou fazer uma analogia para que o entendimento fique mais fácil : imagine aquele mundo criado pela Matrix.Aquela seria nossa suposta realidade subjetiva.Enrolando um pouco com o enredo do filme, imagine que todas aquelas bilhões de pessoas eram apenas criações, apenas bits, da mesma forma que qualquer outra coisa nessa realidade."Viu, é exatamente assim nossa realidade, tudo uma ilusão, nada existe, sou apenas imaginação".Mas, peraí, de acordo com meu argumento, tem de haver um agente subjetivador, que seria aquele que recebe essas informações e cria esse mundo subjetivo em sua ferramenta de subjetivação.No caso do filme, esse agente seria Neo (com o roteiro um pouco embolado).Ele que receberia todas essas informações, e sua ferramenta subjetiva, seu encéfalo, criaria todo aquele mundo irreal, mas que pareceria real, objetivo, para ele.Veja como essa analogia se encaixa perfeitamente, pois, embora exista o mundo subjetivo, o objetivo também existe : o mundo das máquinas, que são as criadoras de Matrix, e as responsáveis por inserirem as informações na mente de Neo, para que ele pudesse criar essa realidade.Embora Neo tenha uma projeção de si em Matrix, ele também tem sua existência concreta na realidade objetiva.Esse mundo das máquinas poderia ser outra realidade subjetiva, criada pela mente de alguém, mas como argumentei, esse alguém que está subjetivando este mundo das máquinas, onde, por sua vez, Neo subjetiva Matrix, tem de ter uma existência concreta em uma realidade objetiva, ou entraremos num loop infinito, que não possui qualquer estrutura para o sustentar.

Chega de 'subjetivação' e 'objetiva' por hoje, numa outra oportunidade termino esse pensamento, argumentando o que acredito ser a verdadeira subjetivação e o que vem a ser a realidade objetiva (e como ela pode ser inferida via Ciência).

Link da imagem original : http://publicidade20071.files.wordpress.com/2007/08/pensador.jpg

domingo, 14 de setembro de 2008

Provando indiretamente - Parte 2

Após ter definido os requisitos mínimos para que algo possa ser objeto de análise (possuir efeitos e características), demonstrar como posso provar indiretamente a inexistência de algo torna-se uma tarefa bem simples.
Vou usar o deus cristão para demonstração.Antigamente, antes do advento da ciência, acreditava-se que o mundo havia sido criado em sete dias e que o homem tinha sido criado da maneira que é hoje, no Jardim do Éden (obviamente, me refiro ao período pós-Constantino, e não há milênios atrás na História, já que outros deuses existiam muito antes da criação do deus cristão).A criação do mundo e do homem eram atribuídas a um algo bem definido, Deus.Temos, portanto, características e efeitos, tornando esse deus cristão objeto passível de comprovação.Como já deve ter percebido, o segredo para comprovação indireta da inexistência é bem simples : demonstrar que a causa para um efeito atribuído a um algo, não é derivada desse algo, e sim de algum fenômeno natural.
Darwin, portanto, matou o deus cristão com sua teoria sobre a evolução.Veja bem, tinhamos, até então, um algo bem definido em suas características e a criação do homem era um dos efeitos atribuídos a esse algo.Portanto, Deus era um ser que vivia no céu, bondoso e onisciente, e havia criado os seres humanos, provendo-lhes alma com o sopro da vida.A partir do momento que Darwin demonstrou que somos frutos de uma evolução controlada por um processo cego chamado de seleção natural, intrínseco a estrutura do Universo, ele provou indiretamente que Deus, o ser que vivia no céu, bondoso e onisciente, e que criou o homem, inexiste.Não há espaço para deus na evolução humana, pois ela pode ser explicada pela evolução.Deus torna-se uma hipótese totalmente desnecessária.Crer que descendemos a partir de Adão e Eva, que foram criadas por Deus, da maneira como Gêneses descreve, é motivo para risadas e, diria mais, de pena.

Mas, se é tão fácil assim provar indiretamente que deus inexiste, então porque ainda existem tantos crentes nele? Primeiro porque, para quem crê, provas não significam nada.Se eu quiser acreditar que trovões são a ira de Zeus no Olimpo, podem falar o que quiserem, podem até mesmo criarem trovões em laboratório para me demonstrar que não passam de efeitos elétricos naturais, mas vou continuar com meus olhos tapados pela minha fé tola e vou continuar atribuindo trovões a ira de Zeus.E segundo, e mais importante, porque Deus, pelo menos o cristão, tem uma característica muito específica : se esconder nas trevas do conhecimento.É como baratas que fogem para debaixo da cômoda quando acendemos a luz.Em outro post futuro, detalho mais sobre os tipos de deuses existentes, mas para agora, basta adiantar que o deus cristão possui atrelado a si três grandes efeitos : a criação do homem, a criação da evolução do homem e a criação do Universo.
Até antes de Darwin, dois desses grandes efeitos eram conhecidos, a criação do homem e a criação do Universo.Pós-Darwin, que demonstrou que o homem não foi criado, e sim evoluiu, entrou em cena o terceiro grande efeito, a criação da evolução do homem.Agora que não era mais preciso Deus para explicar como o homem surgiu, pois tínhamos uma resposta natural para isso, surgiu a dúvida : mas quem deu origem ao primeiro ser que começou o processo evolutivo? Perceba aqui a analogia que fiz : antes, a luz da sala estava apagada e Deus, como uma barata, era livre para percorrer toda a sala em segurança.Darwin abriu a porta e acendeu a luz, ou seja, iluminou-nos com conhecimento, reduzindo a escuridão dos mistérios da Natureza, e Deus, que detesta a claridade, como baratas, correu para debaixo da cômoda mais próxima de si, afim de se proteger da luz.Deus correu para a lacuna mais próxima de si.Este é o verdadeiro deus das lacunas.

A idéia de deus preencheu o nossa ignorância sobre o começo do processo evolutivo, permanecendo, então, viva.Fora isso, o outro grande efeito, a criação do Universo, continuava também atrelada a idéia desse deus, pois não havia nenhuma outra alternativa natural para ela.Foi então que duas novas descobertas rasgaram nosso véu da ignorância mais um pouco : o começo do processo evolutivo foi teorizado por Oparin, e demonstrado em laboratório que é possível moléculas orgânicas surgirem espontaneamente em um cenário como o da Terra Jovem, novamente tornando-se desnecessária a intervenção divina, e a teoria do Big Bang, que foi demostrada por diversos cientistas, entre eles Hubble, que provou que o Universo está em expansão.A vida agora não precisa de mais nenhuma intervenção divina para ser explicada, e até mesmo o Universo já não precisava.Dessa vez, Oparin entrou em nossa sala imaginária com um holofote e, logo atrás, Hubble tirou os móveis.Deus então teve que correr e se esconder mais uma vez, em uma sombra que ainda permanece em nosso conhecimento, que seria 'Como o Big Bang funcionou?'.Deus, para muitos, é a resposta, embora já tenha sido demonstado várias e várias vezes que essa idéia é completamente desnecessária para explicar qualquer coisa que se prestava a explicar.

É importante ressaltar um fato que pode ter passado despercebido.Deus, no começo, era responsável pela criação do homem e do Universo.Após sucessivas comprovações científicas, Deus passou a ser o suposto criador do Big Bang.Este deus e o primeiro NÃO SÃO O MESMO DEUS.Eles podem compartilhar características, mas não são de maneira alguma o mesmo deus.Todos os anteriores morreram, todos foram comprovados inexistentes, mas esse continua ainda vivo.Crentes fanáticos e ortodoxos preferem tapar os olhos e ouvidos para a ciência, e continuar sua crença tola de que viemos de Adão e Eva e que a Terra tem 6.000 anos.Acho que deveria ser propostos para estes que abdicassem de tudo o que a ciência fez, afinal, consideram-a inútil, e fossem viver nus na floresta, levando consigo apenas uma bíblia (escrita a mão, obviamente.Se bem que lápis também são contribuições científicas à humanidade).Acho que pessoas assim merecem tanta atenção quanto os que estão internados em hospícios e julgam serem Napoleão.Já os teístas mais realistas, usam de diversos artifícios para não deixarem seu deus morrer.Propõem novas interpretações da Bíblia, afirmam que sua linguagem e simbólica e não deve ser interpretada ao pé da letra, entre diversas outras respostas estúpidas apenas para não terem que deixar de acreditar em idéias já comprovadas falhas.Porém, parecem desconhecer que o deus que acreditam agora, não é mais o mesmo de 300, 400 anos atrás.Esse já morreu e foi enterrado.Este novo é apenas uma versão moderna daquela idéia prosaica, bem como os deuses romanos eram apenas novas interpretações dos antigos deuses gregos.Seria isso um sinal de evolução? Estaríamos nós enxutando cada vez mais as idéias arcaicas de Deus e chegando cada vez mais próximo da sua verdade? Eu diria que não, afinal, Deus vem perdendo terreno a cada dia mais.Daqui a pouco não vai sobrar uma sombra sequer para a barata se esconder e acabará sendo esmagada pelos pés do último que retirou o móvel ainda existente.

É desnecessário demonstrar que este método serve para qualquer deus existente, bem como para qualquer entidade mágica que possa ser criada pela mente humana.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Provando indiretamente - Parte 1

No post anterior, argumentei como é impossível provar diretamente a inexistência de algo.Tentemos provar a inexistência de um Unicórnio Rosa Invisível, o URI.Não podemos apelar para a falta de evidências de sua existência, pois isto não prova a inexistência de alguma coisa.Um credor na existência de URI poderia dizer simplesmente que não temos tecnologia ainda para detectarmos Unicórnios Rosas Invisíveis, ou que sua existência está segura das vãs tentativas humanas de prová-la.Não existem provas da inexistência de algo, pois algo que não existe não deixa prova alguma disso.Independente de quantos rodeios tentemos fazer, ainda assim será impossível provar que inexistem URIs.É justamente por isso que o ônus da prova cabe àquele que afirma, pois podemos provar que algo existe, e nunca para aquele que nega, pois não é possível provar a inexistência de algo.Lembrando sempre que a posição de negação não precisa de justificativa.Não preciso ter outros motivos para não aceitar a existência de alguma coisa além do motivo intrínseco, a falta de evidências de sua ausência.Portanto, aquele que afirma que algo não existe, ou está afirmando equivocadamente, já que não se pode provar a inexistência de algo, ou chegou a essa conclusão baseando-se em provas indiretas, que é o que tentarei conceituar aqui.

Pegarei URI novamente como exemplo.Digamos que um credor em URI afirme que URI existe.Certamente, o credor em URI irá atribuir características a ele (já atribuiu quando o definiu como 'Rosa' e 'Invisível'), bem como atribuir efeitos atrelados a essa existência.Apenas afirmar 'URI existe' é uma proposição descabida de sentido.O que é URI? Como URI é? O que URI faz ou fez? Quando definimos algo, atribuimos a este algo características que o definem.Se eu disser que hoje vi um Smorgle, você não fará absolutamente idéia alguma do que eu estou querendo dizer, já que não 'Smorgle' é apenas uma palavra.Ao definí-lo, ao atribuir características ao Smorgle, será possível ter uma idéia do que eu quis dizer.Voltando ao caso do URI, o credor irá definir suas características e efeitos.É possível eu definir algo apenas pelas suas características, mas para provar a sua potencial existência, é necessário que eu também cite seus efeitos.Se eu apenas atribuir características aos Smorgle, não estou provando que ele potencialmente existe, apenas estou criando um algo baseado nas características que eu atribui.Para demonstrar que o Smorgle tem potência para existir, eu poderia pedir para que ele desse uma bofetada no amigo para quem contei que o encontrei.Ao receber a bofetada, eu afirmaria para ele 'Foi Smorgle quem deu'.
Portanto, eu acabei de definir uma coisa atribuindo características e efeitos.Um algo apenas com características é inútil, inexistente.Um algo com características e efeitos tem potencialidade para existir.Atente para a palavra que repeti várias vezes : potencialidade.Sim, um algo definido em suas características e efeitos tem potencial para existir, e não existe com certeza absoluta.No caso do Smorgle, um outro amigo meu fantasiado de Smorgle poderia tê-lo bofeteado.Smorgles, então, não existiriam.Seria apenas uma brincadeira entre eu e meu amigo.Inventamos um ser abstrato, atribuimos características a ele, que foram imitadas com uma fantasia e efeitos.Entretanto, isso não se mostrou uma prova da existência desse ser.

Concluindo essa primeira parte, para que algo possa ser considerado tendo potência para existir, é necessário que tenha características e efeitos.Um algo sem características e efeitos é como o Dragão da garagem de Sagan.E um algo que tenha apenas características não demonstra sua potencialidade de existência apenas por ter características definidas.Eu posso definir agora mesmo um Strubix, que é um ente mágico voador, que tem algumas dezenas de metros de envergadura de suas quatro asas e que tem garras bem afiadas em seus 10 pés.Eu apenas definir Strubix não demonstra que ele pode existir.Obviamente, Strubix é apenas criação da minha cabeça.Portanto, a combinação 'características' e 'efeitos' nos dá algo para pesquisar.Tendo algo bem definido juntamente com alguns efeitos atribuidos a esse algo nos dá as ferramentas para correr atrás das evidências da existência desse algo.

Na segunda parte, demonstro como URI e diversas outras entidades mágicas, como deuses, mesmo sendo inacessíveis a provas diretas, podem ser atingidos por provas indiretas.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Ateísmo

Não são poucas as vezes que vejo ateus sendo comparados a teístas, ou sendo classificados como imorais, infelizes, pobres coitados.Como essa segunda 'classificação' não merece sequer se cogitada, vou apenas me ater a primeira 'classificação'.
Normalmente, consideram o ateísmo como uma 'afirmação explícita' da idéia da não existência de alguma deidade.Como certas pessoas consideram a negação explícita algo que não deve ser feito, então automaticamente consideram o ateísmo como uma filosofia que não deve ser adotada.Estas pessoas, que não são teístas e também não querem ser classificadas como ateístas, devido a essa condição, rotulam-se como agnósticos.Porém, estas pessoas desconhecem dois fatos importantes.

O primeiro deles é referente ao agnosticismo.O agosticismo não é uma terceira opção ao teísmo e ao ateísmo.O agnosticismo se refere apenas a crença na capacidade ou na incapacidade do homem, através da razão ou da ciência, chegar a uma conclusão sobre a questão divina.Em outras palavras, um agnóstico é aquele que acha que essa conclusão é impossível, que o homem nunca irá chegar a uma resposta, pois uma deidade, caso exista, estaria num lugar inalcançável para nós, meros mortais.Morreremos e nunca iremos descobrir se existe ou não um deus.Note como essa posição filosófica nada diz a respeito da crença ou descrença direta nessa deidade, refere-se apenas a capacidade ou incapacidade de conceber sua existência.Um ateu pode ser um agnóstico (ele não aceita as idéias existentes sobre deidades, e acha também impossível sabermos com certeza se alguma existe) ou gnostico (ele não aceita as idéias existentes, e acredita que é possível sim chega a uma conclusão sobre esse assunto), bem como um teísta por ser agnóstico (ele acredita em alguma divindade, mesmo sabendo que é impossível saber com certeza se ela existe ou não) sendo chamado de 'fideísta', ou gnóstico (ele acredita em alguma deidade e acha que é possível provarmos a existência dessa divindade).O agnosticismo, portanto, não é uma terceira opção ao teísmo ou ateísmo.Não é a 'posição mais inteligente' que alguém pode adotar porque acha que é impossível emitir alguma conclusão sobre a existência de divindades.É apenas uma filosofia que pode ser mesclada com o teísmo ou ateísmo.

O segundo fato importante é que o ateísmo, pelo menos eu o considero assim, não é uma 'afirmação explícita' da idéia da existência de alguma divindade.Ser ateu não significa AFIRMAR que não existe qualquer divindade.O ateísmo, como o considero, é uma 'não aceitação' das idéias teístas.A ciência humana não nos permite negar diretamente a existência de alguma coisa, embora permita inferir a inexistência indiretamente (falo sobre esse assunto em outro post).Afirmar que algo inexiste é sem sentido, pois são necessárias provas ou, no mínimo, evidências para se poder afirmar alguma coisa.Se algo não existe, então provas de sua inexistência também não existem.Fora isso, 'Ausência de evidência não é evidência de ausência', dizia Carl sagan.Não termos prova da existência de alguma coisa não implica que essa alguma coisa não existe.Um exemplo : não podemos afirmar que um Unicórnio Rosa Invisível não existe.Tente provar para si mesmo que não existe um URI (Unicórnio Rosa Invisível).'Não existe pois nunca vi um URI' não é uma prova, já que nunca ter visto não implica em não existir.Eu nunca vi um ornitorrinco ao vivo também.'Não temos evidências da existência de um URI' também não é uma prova, como dizia Carl Sagan.Só fomos ter evidências de buracos negros há pouco tempo atrás, e nem por isso ele não existia quando não o havíamos descoberto.

Perceba que não é possível provar diretamente que um URI inexiste.E é exatamente aí que entre o ateísmo.Não é porque é impossível provar que inexiste um URI que eu serei obrigado a aceitá-lo.Não há qualquer motivo para que eu aceite a existência de um URI, e isso é bem diferente de eu afirmar que ele inexiste.Afirmar é errado, pois como mostrei, não podemos afirmar diretamente a inexistência de alguma coisa, mas não aceitar é uma posição bastante sensata frente a ausência de motivos para eu aceitar a existênca de um URI.Não são poucas as vezes, também, que vejo teístas afirmando que ateus estão errados pois não é possível provar a inexistência de deus.Primeiro, o ônus da prova cabe a quem afirma.Eu posso provar que algo existe, mas não posso provar que algo inexiste.Portanto, quem deve provar a existência de um deus é aquele que afirma que ele existe, e não aquele que não aceita é que deve provar que ele não existe.Eu não preciso de motivos para não aceitar a existência de algo cuja existência não foi provada.Só o fato de não ter sido provada a existência já é um motivo para a minha não aceitação.E, segundo, o ateísmo, como esto propondo aqui, não é a afirmação da inexistência, é a não aceitação dela.
Só existem duas posições possíveis quando o assunto é deus : aceitar ou não aceitar.Todos aqueles que professam a crença em um deus aceitam a sua existência.Todos aqueles que não professam uma crença, incluindo aqueles que não declaram abertamente que não a possuem (esse é um ponto importante) não aceitam a sua existência.Ateu não é apenas aquele que abertamente não aceita a idéia de um deus, é aquele também que responde 'Não sei' ou 'Nunca parei pra pensar sobre o assunto' ou ainda 'Não afirmo nada pois sou agnóstico'.Mas porque?Porque, como disse anteriormente, só existem duas posições possíveis.Se você não afirma aceitar alguma divindade, então não a aceita, logo, está enquadrado no ateísmo.A definição que aqui propus do ateísmo é a simples não aceitação de alguma divindade, e não uma afirmação explícita de sua não existência, como o senso comum dita.Até mesmo aquele que se acha incapaz de chegar a alguma conclusão a respeito da existência de deus pode ser um ateu por definição, pois achar impossível chegar a uma conclusão não implica em não poder assumir uma posição a respeito dessa conclusão.Se eu não sigo o teísmo, ou seja, se eu não participo de alguma religião, ou se eu não nutro alguma crença em algum ser superior, então sou ateu, mesmo que eu não afirme que alguma divindade existe ou não.

O preconceito com a palavra 'ateísmo' demonstra ser fruto apenas da ignorância com relação a definição.É claro que, diferente do teísmo, os ateus compartilham apenas uma característica : a descrença.Portanto, eu posso ser um ateu que me enquadro nessa definição e admitir, por exemplo, que algum deus deísta possa ser o responsável pela criação do Universo, como eu também posso ser um ateu que convictamente afirmo que não existe qualquer deus.Estaria eu deixando de ser ateu por afirmar isso? Obviamente não, apenas pensaria diferente de vários outros ateus, mas ainda assim seria um ateu.Estaria certo ou errado? Não sei, quem sou eu pra ter a resposta pra essa pergunta tão relativa.A grande falha aqui é que muitos desconsideram o ateísmo por terem tido experiências desagradáveis com possíveis ateus prepotentes ou arrogantes.A generalização equivocada acaba destruindo a idéia de ateísmo para certas pessoas, que acabam achando que ser ateu é ignorar todas as outras idéias e afirmar com toda a convicção que um deus não existe.Equivocada porque isso não é pertencente ao ateísmo por definição, é apenas uma característica daquele ateu em particular.Seria como eu considerar todos os evangélicos como fanáticos e imbecis porque vi um evangélico no meio da rua com a bíblia na mão, importunando a todos com seus berros e pregações.

Deixemos de lado, portanto, o senso comum, e passemos a procurar melhor sobre a definição das idéias para que evitemos preconceitos tolos e infundados como este.

domingo, 24 de agosto de 2008

Vida - Parte 2

No post anterior, dei uma introdução de como a vida poderia ser explicada, sem necessidade de nenhum misticismo, transcendência, ou coisas semelhantes, simplesmente comparando-a a uma máquina, salvo as diferenças.Introduzi o conceito de E/S realizado pelos sentidos, e agora termino dando uma resumida no que penso a respeito do processamento destas informações por parte de nosso encéfalo.

Após as informações serem inseridas, pelo ambiente, em nosso processador central, através dos nosso sentidos, elas são sujeitas ao processamento.Como ocorre esse processamento, como são divididas as tarefas no encéfalo, é difícil explicar.Por exemplo, poderia haver um software de tratamento de informação primária.Esse software reconheceria a informação advinda dos cinco sentidos, e, baseado em regras ditadas pelo próprio encéfalo, ele encaminharia estas informações para suas áreas de processamento específicas.Isso talvez ocorra em algum animal, mas acredito que nos humanos e animais mais complexas, isso deva ser diferente.Temos áreas específicas que tratam cada tipo de informação (vinda da visão, tato, olfato), então é bem mais vantajoso que cada um desses sentidos já esteja diretamente ligado a cada uma dessas áreas para tratamento de informação específico.Isso permitiria que o encéfalo tratasse, ao mesmo tempo, de cinco bits de informação, uma advinda de cada sentido (vamos supor que cada área trate um bit por vez, de maneira serial).Já o mesmo não aconteceriam se todas as informações passassem antes por um software específico para reconhecer a que sentido pertence aquela informação e a que área deve ser destinada.O tempo de resposta do processamento paralelo é muito maior, e tempo é algo crucial para a sobrevivência.

Assim, acredito, é basicamente como ocorre a inserção de dados no encéfalo.Como disse, é muito difícil discorrer sobre como essas informações são processados, não sou neurocientista, então não me arrisco a aprofundar muito.Apenas teorizo que cada parte no encéfalo tenha uma programação específica.No caso da visão, por exemplo.A área responsável por processar as informações que provêm da visão realiza acessos a uma memória central, ou particular, afim de buscar alguma referência para aquele dado que está processando.Digamos que cervo esteja pastando tranquilamente, e de repente avista um leão a alguns metros de distância.Obviamente, a reação do cervo será correr desenfradamente, para salvar sua vida.Vemos aqui, a entrada de dados (a imagem do leão), um processamento e a resposta, ou saída (o cervo foge).Sou levado a acreditar que estes dados são processados da maneira como descrevi anteriormente : uma lista de predadores, os quais o cervo devem temer, encontra-se armazenada na memória deste cervo.No momento em que o cervo avista este leão, sua área específica da visão faz um acesso a memória, automaticamente, tentando descobrir que animal é aquele, que tipo de decisão deve ser tomada frente aquele dado.Ao verificar que o padrão do dado que está sendo processado bate com o padrão do predador leão, o software da visão automaticamente envia um alerta para um possível software geral que seja responsável pela tomada de decisões frente a situações de perigo."Leão a vista, fuja", e os impulsos para fugir são enviados aos músculos do animal.

Descrevi, de maneira muito simplista, como uma máquina biológica pode sobreviver frente a um ambiente, tendo como base um sistema de E/S e um processador central, com memória, para tomar decisões e analisar situações.Essa é a maneira que enxergo a vida.Não vejo necessidade de nenhuma outra explicação que misture transcendência, se, a priori, a vida pode ser facilmente enxergada e explicada dessa maneira.
Os que tem conhecimento sobre Biologia, conseguem enxergar que a construção dessa máquina é realizada pela seleção natural, um outro assunto muito extenso para abordar, no momento, aqui.

Esta é uma maneira interessante de encarar a vida.Esse tipo de interpretação dispensa a necessidade de sentido para a existência, uma vez que somos apenas construções biológicas promovidas por nossos genes, que foram selecionados pelo ambiente, sem qualquer finalidade, uma vez que as leis do Universo são cegas e sem objetivos.

Uma outra vez, possivelmente, retorno a esse assunto, para complementar mais coisas.Por hora, é só.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Vida - Parte 1

"Escrevi este livro na convicção de que nossa existência já foi o maior de todos os mistérios, mas deixou de sê-lo. Darwin e Wallace o desvendaram, embora durante algum tempo ainda devamos continuar a acrescentar notas de rodapé à sua solução. Escrevi este livro porque me surpreendi com o número de pessoas que não só pareciam desconhecer a bela e elegante solução para o mais profundo dos problemas como também, incrivelmente, em muitos casos nem sequer estavam cientes de que havia um problema a ser solucionado!" (Richard Dawkins, O Relojoeiro Cego, Prefácio)

Concordo realmente com esse pequeno trecho deste livro, escrito por Dawkins, um biólogo inglês, muito famoso atualmente graças aos seus livros referentes ao ateísmo.Ainda hoje, é constante entre a avassaladora maioria das pessoas o sentimento de mistério, de desconhecimento, perante a vida, tanto humana, quanto do mais simples ser vivo.Porque esse mistério ainda existe? Porque essa quase necessidade de que a vida esteja envolta por mistérios indecifráveis, longe do nosso alcance? A ciência já explicou grande parte desse mistério, e continua explicando até hoje.Minha visão, a grosso modo, da vida, é bastante simples.

Primeiramente, defino como 'ser vivo' qualquer estrutura que apresente um código genético, ou seja, que esteja apta a passar adiante estas informações e gerar um novo ser, igual ou ligeiramente diferente.Defino, então, 'vida', como o estado em que este ser vivo se encontra quando apresenta um metabolismo característico.A característica mais fundamental entre os seres que apresentam vida, acredito, seja a necessidade de alimentação, ou seja, conversão de energia para manter suas funções.Desconheço algum ser que seja, pela Biologia, classificado como vivo, que não apresente a necessidade de conversão de energia para manter suas funções.Não sou biólogo, portanto, esta minha visão pode ser completamente falha, mas também pode não ser.Enquanto desconhecer alguma estrutura considerada viva pelos estudiosos, que não se enquadrem nessas características, minha visão continua válida para análise.

Definido suas propriedades, podemos discorrer sobre a vida em si, esse estado apresentado pelos seres vivos.Os humanos são demasiadamente complexos para serem objeto de minha análise, então posso optar por algo mais simples, um pequeno inseto, por exemplo.Antes, devo adiantar que catalogo estas estruturas em camadas, partindo das mais simples, na base da pirâmide, como bactérias, até a mais complexa conhecida, nós, no topo.Isto não é uma pirâmide de importância, e sim de complexidade.Um pequeno inseto poderia se encontrar no meio dessa pirâmide.Como minha área de estudo é a Computação, minhas analogias serão todas envolvendo estruturas digitais.
Um pequeno inseto, como um computador, apresenta dispositivos de Entrada e Saída (E/S), memória e um processador central.Estes dispositivos de E/S são os sentidos (Entrada) e as reações (Saída).Os sentidos são as vias de entrada para as informações do mundo que nos cerca.Ondas eletromagnéticas são captadas por nossos olhos, enviadas pelo nosso nervo ótico ao encéfalo.Ondas mecânicas capturadas por nossos ouvidos, ressoando nos tímpanos, cujas vibrações são enviadas transformadas em pulsos elétricos também enviados ao encéfalo.Moléculas convertidas em pulsos enviadas para nosso encéfalo como informações referentes a odores e gostos.O movimento destas como tato.Precisamos de informações para poder analisar o mundo que nos cerca e tomar decisões que nos farão sobreviver.Se não dispuséssemos de paladar e odor, poderíamos comer qualquer porcaria estragada, e morreríamos.Por esse motivo, coisas boas cheiram bem, coisas ruins e danosas cheiram mal.Se não tivéssemos informações visuais, seríamos alvo de predadores.Se não tivéssemos informações como temperatura, poderíamos dormir em cima de uma chapa de ferro quente e ficar incinerados em alguns minutos.Todas estas informações que entram pelos nossos canais de entrada são importantes, são necessárias para nossa sobrevivência como espécie.Uma vez captadas as informações, é necessário que sejam processadas, afinal, de nada adianta ter uma informação se não é possível processá-la para gerar uma resposta.Mas esta análise fica para a próxima postagem.

domingo, 3 de agosto de 2008

Motivos para viver x Razão da existência

Não é raro se deparar com perguntas do tipo "Se sua vida não tem sentido, então porque você continua vivo?". Obviamente, a pergunta é sempre feita por um teísta, ou pelo menos alguém que acredita existir por algum motivo em particular.
É importante fazer uma distinção aqui entre duas coisas, que são "Motivos para viver" e "Razão da existência".Os motivos que impulsionam uma pessoa a viver são pessoais, variam de pessoa para pessoa.Por exemplo, eu posso amar música, e ter como objetivo me tornar um grande músico.Dedico minha vida inteira a estudar mais e mais música, a me especializar cada vez mais, sempre na esperança de me aperfeiçoar.Posso também ter como objetivo o conhecimento simples e puro.Conhecer, seja qual for o objeto de estudo, me instiga.Dedido então minha vida a acumular o máximo de conhecimento possível.Posso também ser um alpinista, e ter como objetivo de vida escalar as mais altas montanhas que existem.Mas porque faço tudo isso? Conhecimento não é algo que vai se extinguir totalmente logo após a morte, como pensam os materialistas? Escalar montanhas não trará apenas um prazer momentâneo.Em parte sim, em parte não.Faço isso, no caso dos exemplos, porque me traz prazer.Não é apenas uma interpretação hedonista da vida, mas as pessoas sempre buscam aquilo que lhes dá prazer, seja lendo ou fazendo algo mais altruísta, como ajudando o próximo.A vida tem isso a nos oferecer como direito.Não seria bem sem graça uma vida totalmente desprovida de prazer? É justamente essa ausência de prazer, essa ausência de vontade de viver que leva pessoas a darem cabo de sua própria vida.Enquanto houver algo que lhe dê prazer, a chama da vontade de viver permanecerá acesa no indivíduo.
É importante notar que não é preciso uma crença pós-morte para que eu tenha prazer ao absorver conhecimento ou escalar uma montanha bem alto.Faço isso pelo prazer que esses atos me trazem, faço isso porque são meus objetivos de vida.Eu existo, então aproveito fazendo aquilo que gosto.Durante toda a minha busca por satisfação pessoal, a crença em uma vida pós-morte se mostra desnecessária.Não preciso acreditar que vou viver para sempre para me sentir mais feliz ao realizar algo que me traz prazer.Ninguém precisa, diria eu.Não vou sentir mais prazer escalando uma montanha se, enquanto realizo a façanha, ficar imaginando que quando morrer vou prum lugar mágico.Em síntese, os motivos para prorrogar a existência são pessoais, relativos absolutamente a cada indivíduo.Não sinto vontade de extinguir minha existência pois tenho objetivos, pois existem atos que me trazem prazer.Sendo assim, permaneço vivo e buscando sempre uma boa saúde para extender ainda mais essa minha existência tão curta.Não vou entrar aqui nos méritos biológicos de instinto de sobrevivência do indivíduo, pois é um argumento que se mostra desnecessário.

No outro lado, temos a razão da existência.A razão da existência difere dos motivos que tenho para viver pois ela não engloba a minha existência em particular, não engloba os motivos que eu tenho para prorrogar minha existência, ela trata apenas da existência humana de uma maneira geral, global."Afinal, porque estamos aqui?" é uma pergunta referente a razão da existência.É uma pergunta, diga-se de passagem, que carece de resposta, pois não existem motivos para estarmos aqui.Os motivos que as pessoas costumam buscar são sempre motivos transcendentes, referentes a deidades.As pessoas buscam motivos específicos como "Estamos aqui porque Deus nos deu a vida para que possamos seguir sua palavra e, depois que desencarnarmos, vivermos na felicidade absoluta para todo o sempre".Essa seria uma resposta para a pergunta, mas, obviamente, é uma resposta infundada, que não tem qualquer comprovação.Citei-a apenas para contrastar os dois conceitos.
As pessoas não enxergam a poesia em sermos uma obra de uma lei cega da Natureza, apenas mais um degrau na escala evolutiva das espécies, que segue seu rumo sem qualquer motivo aparente.As pessoas necessitam de um motivo para existirem, pois acham que sem esse motivo, suas vidas perderiam o sentido.Acham que sem essa explicação de "vida após a morte", escalar uma montanha deixaria de dar prazer.Absolutamente, esse tipo de pensamento não tem sentido, mas isso já é assunto pra um outro futuro post, este serviu apenas para distinguir estes dois conceitos.Espero que tenha ficado claro a diferença.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Não existem verdades absolutas?

Certa vez, debatia com um teísta cuja certeza de que não existem verdades absolutas só perdia pra sua certeza de que existe um deus, o que é até irônico.Essa frase ecoou na minha cabeça por um tempo, até que descobri que tal afirmação, de que não existem verdades absolutas, é desprovida de sentido, tanto semântico quanto prático.

Pra começar, podemos analisar a frase."Não existe verdade absoluta" admite duas situações possíveis.A primeira situação nos garante que qualquer que seja a verdade, ela não é absoluta."Não existe verdade absoluta" é uma verdade que, nessa situação, não pode ser absoluta, ou seja, ela tem que ser falseada, o que nos garante que existe pelo menos uma verdade absoluta.Se existe uma única verdade absoluta, então a afirmação inicial perde o total sentido.Essa proposição lógica entra em contradição consigo própria.Em resumo, "Não existe verdade absoluta" não pode ser uma verdade absoluta, já que ela própria garante que nenhuma verdade pode ser, o que significa que deve existir pelo menos uma verdade absoluta para que a afirmação deixe de ser absoluta.
A segunda situação que podemos admitir é que essa afirmação se refere a um conjunto de verdades, onde estão contidas todas as verdades existentes menos a verdade "Não existe verdade absoluta".Essa afirmação se refere apenas a essa conjunto de verdades, não regendo a si própria.Bom, isso é criar uma situação para contornar o problema, que pode ou não ter valor prático.No caso, esse contorno não possui valor prático.Primeiro, não conhecemos todas as verdades que são passíveis de existência.Para afirmar algo assim, seria necessário, além de conhecer todas as verdades, provar que todas elas são relativas.Segundo, essa prática só teria valor se descobríssemos uma regra intrínseca que afirmasse que apenas um número exato de verdades existem ou podem ser conhecidas, pois sem isso nunca poderemos ter certeza se atingimos ou não o número de verdades passíveis de existência.Terceiro, teríamos que descobrir uma regra que pudesse ser aplicada a todas as verdades, provando que todas são relativas (apenas afirmar que elas não são absolutas não é uma prova), cuja excessão seria a existência de uma verdade que fosse absoluta (no caso, a afirmação da não existência de verdades absolutas).Porém, isso nos deixa em apuros novamente, pois essa regra teria que ser absoluta, ou então sua relativização seria a existência de mais de uma verdade que não se enquadrasse na categoria absoluta.As coisas mais complicam do que simplificam, e isso não é bom.Quarto, teríamos que descobrir um método para provar sem sombra de dúvidas que toda verdade seria eternamente relativa, e nunca atingisse um status absolutista.Como deveria ser esse método, eu não faço idéia.Não me parece lógico que uma afirmação vá eternamente ter valores relativos, e nunca chegarão a um consenso sobre seu valor único e absoluto.E outra, este método de avaliação deveria ser também uma verdade absoluta, ou não seria confiável.

Em síntese, podemos ver que a afirmação é desprovida de sentido.Afirmar que não existem verdades absolutas põe a própria afirmação em questão, o que invalida a idéia.Os meios de contornar esse problema só trazem ou mais problemas, ou uma quantidade maior de verdades que deveriam ser adotadas como absolutas.Quanto mais verdades elevamos ao status de absolutas para proteger a afirmação inicial, mais difícil se torna filtrar aquilo que é verdade absoluta daquilo que é verdade relativa.Sem um método absoluto de validação, torna-se ridículo afirmar tal coisa.
A grande verdade (absoluta ou relativa, não sei) é que essa afirmação é uma deturpação da falseabilidade científica.Uma descoberta científica admite ser questionada, e até abandonada ou melhorada de acordo com os fatos ou experimentos realizados.A maneira pela qual podemos verificar a validade de uma teoria é pondo-a a prova, tentando falseá-la.Quanto mais resiste, mais forte e provável se torna essa idéia.Mas isso não significa que essa verdade será relativa para sempre, apenas de que ela será questionável para sempre.Se á absoluta ou não, também não podemos afirmar, pois não existe o tal método de verificação de absolutismo ou relativismo.Acredito também que uma pequena deturpação das teorias de Einstein contribuem para isso.Uma idéia científica sempre chega totalmente contaminada no popular.

Portanto, não há cabimento em se afirmar que inexistem verdades absolutas, pois não conhecemos todas as verdades, nem provamos que todas são relativas.Mesmo que provássemos, teríamos ainda que provar que apenas aquele número de verdades pode ser concebido.Se fizéssemos isso tudo, ainda assim teríamos um conjunto de verdades absolutas, o que invalida a afirmação de que elas inexistem.Deveriámos entrar criar um conjunto de verdades absolutas separado do de verdades relativas, e mudar a afirmação para "Existem X verdades absolutas apenas".

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Bem vindo ao nada absoluto.

Já se perguntou o sentido de tudo isso?
Já procurou incessantemente, porém nunca obteve nenhuma resposta?
"Estamos aqui para morrer e ir para um lugar mágico" é uma justificativa que não te satisfaz?

Talvez esteja procurando algo que não exista.
Eu não vou encontrar fadas no meu jardim, mas o problema não está na ordenação das plantas ou na "energia negativa" que ele emana, e sim nas fadas.Oras, elas não existem, como posso querer encontrá-las?
Talvez esteja apenas perdendo seu tempo procurando algum sentido, motivo, razão pra aqui estar, fazendo o que está fazendo.Tempo este que poderia estar sendo usado para coisas mais úteis, porém sem sentido também, mas mesmo assim úteis.
A vida não é desprovida de qualquer motivo absoluto.As pessoas fazem aquilo que as motiva a viver.Eu posso me satisfazer trabalhando, ou me divertindo, ou até mesmo aproveitando a vista de uma bela paisagem.O problema está em perguntar "Qual o sentido de admirar uma bela paisagem?".Fora a satisfação que isso lhe traz, nenhum.Novamente, "Qual é o objetivo em eu me satisfazer?".Continuar vivendo é a única resposta plausível.Pra quê? Nada em especial.
Os humanos perdem muito tempo procurando um motivo pra fazer o que fazem.Porque não simplesmente aceitar que não há motivo em se fazer o que faz? Será que um belo café expresso vai perder seu gosto se não houver um motivo para tomá-lo? Será que o sexo vai deixar de trazer prazer se o único motivo para sua existência é a procriação da espécie, motivo este que não traz consigo qualquer motivo além de genes tentando se replicar sem qualquer pretensão?

Quantas respostas tolas inventadas pra uma pergunta, ironicamente, sem sentido algum.
Humanos, que continuem rezando para seus deuses na esperança de que eles lhe iluminem com alguma resposta.Ou criem uma para dar, já que eu não vejo sentido algum em existir(em) uma(s) criatura(s) cujo objetivo é dar vida a criaturas inferiores a si mesmo com a pretensão de salvar algumas para que passem a eternidade num paraíso.O que será que tem pra fazer lá? Ficar feliz pra todo sempre? Me parece meio tedioso.Mas isso é assunto pra outras postagens.

Seja bem vindo ao nada absoluto.

Intersubjetivas
Politicamente Incorreto
A Herege