sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Liberdade e Ateísmo

É certo que o ateísmo confere certa liberdade aos que adotam sua filosofia.O ateu não mais se vê diante dos olhos incansáveis de um ente supremo que o seguem até nos momentos de maior intimidade, não mais necessita se sentir culpado ao 'cometer' atos de extrema insignificância, que muitos julgam serem pecados mortais, não mais precisa deixar de gostar de determinadas coisas porque uma deidade em específico desaprova-a, não mais precisa seguir mandamentos que muitas vezes não entende, e até discorda, embora acredite que deva manter essa discordância muda, seguindo cegamente tais ensinamentos, muitas vezes por medo, outras por ambição pelo tão sonhado prêmio eterno.Em resumo, o ateu pode tirar o encéfalo da inércia e começar a usá-lo para julgar, concordar, discordar, opinar.

Não que teístas não possam fazer tais coisas.Obviamente podem, e o fazem.Mas, convenhamos, as restrições são bem maiores.Só por acharem que duvidar da existência de sua divindade já é uma heresia, podemos perceber.Estando mais abertos a novas opiniões, a novos modos de pensar, o ateu (ou pelo menos aquele que duvida, mesmo mantendo a crença, embora seja um paradoxo) acaba apreciando um grau de liberdade mais notável do que o dogmatizado.

É claro que o ateu não é o ser mais livre desse mundo.Claro que não experimentamos a liberdade plena, enquanto os teístas ficam encarcerados dentro de suas convicções inatingíveis por dúvidas.Até porque liberdade plena é algo teórico, e não prático.
O que acontece é que o ateu tem um poder maior de julgamento, que rompe os simplórios limites dos ensinamentos de um livro milenar.O ateu experimenta o poder de entender aquilo que necessita ser estudado, e não simplesmente aceita porque um ser mágico disse que é assim que tem que ser.
Justamente por essa capacidade, somos maus vistos, pois julgam-nos como devassos, puramente hedonistas, sem quaisquer valores, sem moral, pois estes que julgam, acham que valores e moral podem apenas ser extraídos de seu livro sagrado.Acreditam que a moral absoluta está escrita nas páginas de um livro velho, e todos aqueles que não compactuam com esse livro, não seguem essa moral absoluta, logo, são sodomistas.Estes acham que não há motivos, por exemplo, para um ateu ser solidário com um próximo, pois: 1) ele não teme um deus e 2) ele não acredita no céu.Se ele não teme um deus, então não tem porque ele ser solidário, já que Deus nos manda ser solidários, e quem não for, sofrerá as consequências.Se ele não acredita no céu, então não tem porque ele ser solidário, já que Deus diz que apenas os solidários vão para o céu.Logo, nada impede o ateu de chutar o próximo, em vez de dar-lhe roupas de frio ou alimento.
Uma frase muito interessante, que infelizmente não lembro a quem pertence, diz que 'Se agimos bem por medo ou esperando uma recompensa, então somos uma espécie bem medíocre'.Uma pessoa que alimenta tais pensamentos em relação a um ateu com certeza acredita que só existem estes dois motivos para se agir bem, por medo ou por ambição.Se ela acredita que existem apenas estes dois motivos, então podemos concluir que ela age por pelo menos um desses motivos.Ou ela é solidário porque teme o inferno, ou almeja o céu.Que moral é essa? Que valores são esses? Ajudar o próximo apenas porque isso vai lhe garantir uma passagem para o céu? Isso é ser bom?
Se Deus existir, e for justo, então com certeza vai preferir o altruísmo de um ateu, que o faz sem esperar nada em troca, tanto fisica quanto transcendentalmente, a um ato altruísta forçado de um crente, que o faz porque isso vai lhe garantir o céu.Se Deus preferir este último, então não é um ser justo, e acho que vou estar bem melhor no inferno, bem longe dele.

Ateus não são destruidores, assassinos ou pessoas sem compaixão só porque não acreditam que uma boa ação lhe renderá frutos no pós-vida.E também, como os teístas, estamos sujeitos a regras.Todos vivemos em sociedade, e para que ela funcione bem, são necessárias leis.Todos devem estar sujeitos a estas leis.Existem dois tipos de leis, as implícitas e as explícitas.Leis explícitas são aquelas que são traduzidas pro papel.Matar, por exemplo, na nossa sociedade, é um crime, e a pessoa que cometeu tal crime irá pagar com o encarceramento e consequentemente, com o afastamento da sociedade (pelo menos em tese).Mas não matar também pode ser considerada uma regra implícita em uma outra sociedade.A dos babuínos, por exemplo.Um conselho de babuínos não decidiu que matar é algo errado e que os babuínos não devem praticar tal ato, mas mesmo assim babuínos não saem por aí matando seus semelhantes.E a explicação é simples : se fizessem isso, não teria como existir uma sociedade de babuínos, pois eles não poderiam andar juntos, ou brigariam até a morte de um.Sozinhos, são muito mais vulneráveis do que unidos.Essa é uma regra implícita, que existe devido a estrutura da sociedade.Para que haja uma sociedade por mais simples que seja, um conjunto de leis implícitas se faz necessário, entre eles, não matar seus semelhantes.
Portanto, todos, ateus ou não, estamos sujeitos a estas regras.Caso descumpramos uma ou mais, devemos pagar as penalidades que democraticamente são escolhidas (pelo menos em tese).E assim a sociedade vai caminhando, de maneira pacífica.

Imagine um cenário onde todos vivem felizes, com um teto em cima de suas cabeças, com a barriga cheia.Todos vivem pacificamente, amigavelmente, todos curtindo suas vidas da melhor maneira possível.É um cenário utópico? Pelo menos eu acredito que sim.A pergunta é: dogmas religiosos se fazem necessário para que tal cenário se cumpra? Pelo menos eu acredito, veementemente, que não.O que é preciso para que cheguemos o mais perto possível desse cenário? Educação + Leis + Líderes honestos.Tudo começa com uma boa educação.Eu não tive educação religiosas, no entanto, não sinto uma necessidade incontrolável de beber sangue humano, vontade que alguns acreditam que os ateus partilham, simplesmente por serem ateus.Uma boa educação para as crianças, um conjunto bom de leis para que a sociedade funcione e líderes honestos para fazê-las serem cumpridas, e teremos um bom lugar para se viver.Não existe necessidade de religiões.

Um amigo meu acredita que a religião é boa para manter as pessoas mais pobres nos eixos.É uma maneira interessante de pensar, e, por outro lado, muito prosaica.O que é melhor: que mantenhamos as pessoas mais simples em grilhões de crenças sem sentido, ou que façamos investimentos para educar estas pessoas simples, tornando-as mais críticas, e, consequentemente, chegando mais perto do nosso cenário utópico? Sem contar que religião não previne nada, e os apenas 1% do total da população carcerária dos EUA serem ateus, confirma isso.Mais de 95% do nosso país se declarando como pertencente a alguma religião, mas sendo, pelo menos o meu estado, um dos mais violentos do mundo, confirma mais ainda.

Deixo então uma conclusão, e uma idéia: ateus não são seres malignos loucos por almas humanas, pelo contrário, o ato altruísta de um ateu é muito mais belo do que o de um teísta, que pode esconder segundas intenções por trás, e derrubemos igrejas e construamos mais escolas.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tabula Rasa - Parte 1

Os seres humanos são compostos de duas partes, simplificadamente falando, que são a parte biológica e a parte psicológica.Entenda-se psicológica como a cultura que agregamos, o conhecimento que armazenamos etc.
Nossa parte biológica está definida pelos incontáveis genes que compõe nosso código genético.Nosso corpo é a projeção daquilo que está codificado em nossos genes.Obviamente que, ao longo de nossa vida, podemos modificar nosso corpo, mas inicialmente, nosso DNA nos fornece tudo aquilo que bilhões de anos de evolução julgou ser necessário para que sobrevivamos.
Dentro desse DNA, também está codificada a nossa segunda parte componente, nossa psicológico.Nascemos com capacidade para... Com capacidade para falar, com capacidade para aprender, com capacidade para agregar cultura.Não nascemos conhecedores das palavras ou das leis, por exemplo, temos apenas capacidade para aprender.Logicamente, quem nos ensinarão estas coisas que devemos saber serão outros humanos.

Analisando essa forma simplificada de enxergar a condição humana, o que podemos concluir? Bom, podemos concluir que nascemos como uma folha em branco, como uma 'Tabula Rasa', como definiu John Locke, pelo menos em termos culturais, lingüísticos.Após essa conclusão, pensemos : o que defini um ser humano? Podemos ter a definição da espécie Homo Sapiens Sapiens observando apenas nosso componente biológico.O código genético que possuímos, ou fenotipicamente, nossas características, nos definem, biologicamente, como esta espécie.Podemos tentar uma definição mais ousada, e definir como humanos aqueles seres que tem potencial para aprender.Mas logo vemos que essa definição é falha, porque diversos animais tem potencial para aprender várias coisas, como os cachorros, que podem ser adestrados.Podemos então definir humanos como aqueles seres que possuem capacidade de comunicação.Mas ora, chimpanzés também podem se comunicar, visto que vivem em sociedades que por vezes são excepcionalmente complexas.Outra definição que podemos dar para a palavra humanos engloba aqueles conhecimentos que aparentemente apenas nós podemos dominar, como o poder de fazer ciência, ou o raciocínio lógico-matemático.

Se adotarmos essa definição para humanos, podemos automaticamente inferir, dado as premissas anteriores, que não nascemos humanos, somos TORNADOS humanos por outros humanos.Em palavras mais simples, se ser humano significa dominar o conhecimento que aparentemente apenas nós podemos dominar, e tendo em vista que não nascemos com esse conhecimento, apenas o aprendemos ao longo de nossa vida, então não nascemos humanos, nos tornamos humanos ao longo de nosso aprendizado.Nascemos como uma espécie animal, e assim permanecemos até que tomemos parte em alguma cultura, até que comecemos a demonstrar nossa habilidade para o aprendizado.Em suma, nada, inicialmente, nos separa dos animais, em termos biológicos.Temos potencial para linguagem, para o aprendizado, sim, mas como argumentei anteriormente, animais também tem potencial para aprendizado, para a linguagem.Nosso potencial aparentemente é bastante superior, mas isso é apenas uma questão de grau.Os olhos de um gavião são muito melhores do que o de um pequeno canário, mas ambos continuam sendo aves, e ambos continuam sendo animais.Sem contar que essa é apenas uma questão de ferramentas de sobrevivência.Temos potencial superior para aprendizagem, mas morcegos possuem ecolocalização, cães possuem ótimo faro e audição.

Nascemos sem qualquer distinção de qualquer outro animal (na minha opinião, continuamos sem distinção de qualquer outro animal durante toda a nossa vida, até a morte, mas alguns cismam em nos colocar em uma posição superior a dos animais, não admitindo que todos fazemos parte do mesmo saco, mas isso é irrelevante no momento) e permanecemos assim até que nos seja passada nossa cultura característica.

Mas, afinal, para que serve isso tudo que estou falando?

Para demonstrar o quão sem sentido são afirmações como 'Todos nascemos crendo em um deus'.Certa vez, assistindo a um documentário sobre uma mulher atéia, que criava os filhos sem impôr-lhes uma educação religiosa, que foi passar uns dias na casa de uma família cristã, me deparei com a declaração da dona de casa cristã 'É um absurdo o que ela [a moça atéia] faz com seus filhos, pois todos nascemos com a crença em Deus'.A frase não foi absolutamente essa em sintaxe, mas em semântica sim.
Não foi apenas uma vez que, em debates, teístas afirmaram que, por exemplo, uma criança abandonada numa ilha, sozinha, sem qualquer contato com os humanos, apresentaria atitudes semelhantes a credores em deus, ou seja, que essa criança, ao crescer, alimentaria uma crença numa divindade, porque essa crença já estava inserida em sua psiquê desde o nascimento.

Esse tipo de afirmação demonstra desconhecimento em várias áreas do conhecimento, como Biologia, Antropologia, Sociologia.Porque alguns crêem em um ou mais deuses, e como isso provavelmente começou?

Deixo pro próximo post.

domingo, 12 de outubro de 2008

Graças a Deus!

Quando nos curamos de uma doença grave, ou quando tudo corre bem, afirmam "É graças a Deus".E quando não nos curamos, ou tudo corre mal, é graças a quem?
Ousam dizer que "Há males que vêm para o bem", e fazem certas analogias como "Um pai não tem de punir o filho para que aprenda? O mesmo faz Deus conosco!".Mas é quando essa punição é fatal, ou irreversível, ou nada me traz de aprendizado? Quando estou dirigindo tranquilamente por uma estrada, e um caminhão desgovernado destrói meu carro, juntamente comigo, me proporcionando uma morte terrível, exatamente o que eu aprendi (ou deveria ter aprendido?) Ou quando tomo um tiro de uma bala perdida e fico entrevado numa cama, tetraplégico, pro resto da vida, o que supostamente Deus queria me ensinar? Que eu não devo andar pelas ruas? Que eu devo me trancar em meu quarto e evitar contato com esse mundo violento?
E quando nasço de uma família extremamente pobre, e sou obrigado, quando criança, a cavucar nos lixões para achar 'comida'? O que será que Deus está tentando me ensinar? Sim, porque isso certamente tem de ser um castigo, já que eu não consigo ver o lado bom de se ter que catar comida no lixo, por mais que tente (acredito que nem o mais ferrenho dos otimistas conseguiria dizer o lado bom disso).Ou quando nasço com uma deficiência mental, ou até mesmo física, e sou obrigado a assistir crianças pequenas correndo serelepe pra lá e pra cá, aproveitando sua energia da infância, enquanto necessito ficar sentado na minha cadeira de rodas, porque minhas pernas não respondem?
Se temos livre-arbítrio, deveriam todos ter chances iguais para poder, a partir dessas chances, decidir o que fazer.Mas se eu já nasço com uma deficiência física que me impedirá de ser um jogador de basquete, por exemplo, meu grande sonho de infância, onde está exatamente a o livre-arbítrio? Não foi Deus quem decidiu que eu nasceria assim? Ou será que fui eu próprio, antes de nascer, que escolhi ter essa vida? Parece-me tolice pensar dessa maneira.Se Deus já escolhe como nascerei antes mesmo de nascer, então o livre-arbítrio encerra-se aí.Não é possível conciliar liberdade com essa idéia.Alguns cristãos afirmam que desafortunados são, na verdade, mais afortunados que os saudáveis, pois 'Deus tem um plano especial para eles'.Novamente, a liberdade ferra-se, pois não fui eu que escolhi esse plano, foi Deus quem o escolheu pra mim.Se me perguntassem 'Você prefere ser rico, morar no conforto e ter o que quiser comer, com bastante fartura, ou prefere ficar com o plano especial de Deus, onde você nasce pobre, tendo que pedir esmolas pra se alimentar, e dormir na rua passando frio, mas ganha um desconto de 90% na quantidade de boas ações que deveria fazer pra ir para o céu?', eu mandaria Deus enfiar o plano dele lá naquele lugar (se é que a divina santidade tem aquele lugar, mas como somos sua imagem e semelhança, então é provável que tenha.Eu só fico a me perguntar que serventia tem isso pra ele).

E para os que acreditam que desgraças só acontecem com infiéis, por favor, www.google.com.br , e boa pesquisa.
O post me parece meio incompleto, num momento mais oportúnuo, incluo mais incongruências divinas (ou seriam incongruências bem humanas?)

Louvemos ao todo poderoso, protetor dos ricos e bem afortunados!

Ps.: O post foi mais direcionado aos cristãos, mas acredito que se encaixa bem para qualquer deus que se julgue justo e milagreiro.

sábado, 11 de outubro de 2008

Porque a fé não é racional?

O grande problema, considero eu, das crenças teísticas é um que a maioria compartilha : o proselitismo.Além deste, a dogmatização.Teístas, convencidos de serem donos da verdade absoluta, saem em militância afim de converter o máximo possível.Durante essa 'árdua missão', claro, não poderia faltar o preconceito para com aqueles que não fazem parte de suas ideologias.
Cristãos convencidos de que só quem louva Deus pode experimentar o amor, acreditam que ateus e demais teístas (que são, basicamente ateus, do ponto de vista cristão) são seres frios e desprovidos de afeição pelo próximo, já que é impossível algum sentimento nobre como amizade e respeito com o próximo germinar no coração de um ser onde há ausência de Deus (e, acredite, já fui acusado disso).

Mas não quero me aprofundar nessa questão, este foi apenas um parágrafo introdutório.Quero me ater em outro ponto, na falta de razão total das crenças.Como comecei a introduzir em um artigo anterior, à um deus são atribuídas diversas explicações para diversos fatos.Um cristão, por exemplo, que segue a bíblia, acredita ser Deus o criador do Universo, dos planetas nele presentes, da vida, além de diversos outros milagres que lhe são atribuídos.Note que não faz absolutamente qualquer sentido atribuir a Deus tais feitos, e demonstro porquê.

É importante salientar que os cristãos acreditam ser Deus intocável pela ciência, ou seja, não podemos, de forma alguma, provar que determinado fato é proveniente de uma causa divina, pois não podemos ter acesso a essa causa.Se X fosse um fato qualquer, não poderíamos afirmar que ele deriva de D, uma causa divina, pois D não poderia ser detectada pela nossa ciência.Por isso acredita-se que os milagres são fatos que não possuem qualquer explicação racional, ou natural, já que, sendo derivado diretamente de uma causa divina, este fato pareceria, para nós, como advindo do nada, de lugar algum.
Peguemos, novamente, o fato X.O fato X pode ser simplesmente qualquer coisa, para exemplificar, vamos adotar que X seja a emergência da vida na Terra.Constatado que a vida existe na Terra, temos que X é um fato válido.Aplicando a causalidade, podemos inferir que X deriva de um outro fato, chamemos Z, que causou a vida na Terra (obviamente não foi um fato isolado o responsável, mas vamos simplificar).Z permanece desconhecido para nós, embora saibamos que ele tem de existir, pois todo a todo efeito está atrelado uma causa (não quero entrar também nos méritos de discussões sobre causalidade.Vamos partir da premissa que ela é válida).Portanto, temos X e temos o conhecimento de que Z existe, e provocou X.Qual é a posição sensata, ante a ignorância em relação a Z? Eu diria, por acreditar que esta é a posição sensata, que devemos invocar hipóteses para podermos tentar desvendar Z.Munido de possíveis explicações, utilizando conhecimentos anteriores, devemos pesquisar Z para podermos definí-la completamente.Enquanto estudo Z, não sei o que ela é, não adoto uma explicação como verdadeira até ter provado, e mesmo após ter provado, minha explicação permanece questionável para qualquer um que discorde da minha definição.Durante todo esse processo, eu permaneço totalmente neutro em relação a Z, afinal, não sei do que se trata.
Agora, o que faz um teísta em relação a um fato X qualquer, cuja causa desconhece? Simples, ele assume que foi um deus e pronto.Muito simples, poupa bastante trabalho, não é preciso formular hipóteses, estudar, gastar tempo pesquisando.Ele apenas assume que foi uma causa divina, confecciona uma estátua deste ser divino que provocou X e reza pra ela.Onde está a razão nisso? Onde está o sentido nisso? Onde está a sensatez nisso?

Diante de um mistério, por mais complexo que seja, a posição sensata é sempre pesquisar.Não importa quanto tempo leve, nem quanto esforço irá custar.Muitos acreditam que existe um prazo de validade para um mistério.Se eu pesquiso por 50 anos e não descobri a causa, então automaticamente passa a ser efeito divino.Se eu desconheço a explicação de um mistério, os teístas riem de mim e se vangloriam de saber a resposta : Deus.Como já postei antes, durante um debate com um teísta, ele afirmou que minha resposta 'Não sei' para a sua pergunta 'Como o Universo surgiu' é demonstração de 'preguiça intelectual'.Sou obrigado a conhecer a explicação de todos os mistérios do mundo, senão sou simplesmente um preguiçoso.É claro que ele sabia a resposta pra essa pergunta, 'Foi Deus', ora essa, como não haveria de ser?

Apesar do que alguns afirmam, a maioria não assume deus como uma HIPÓTESE, o que, para mim, é algo totalmente plausível.Assumir deus como uma hipótese que pode explicar a causa de um fato é se manter neutro a essa causa, e estar estudando-a com a finalidade de descobrí-la.Porém, quando eu não faço sexo porque está escrito na bíblia que Deus é contra sexo fora do casamento, eu não estou assumindo Deus como uma hipótese, estou tomando como premissa que ele existe, já que a bíblia supostamente é sua palavra, e se eu a sigo, e porque acredito na validade dela, logo, acredito que Deus existe.

Qualquer tipo de fé é sem sentido, pois a premissa básica é acreditar em algo que não pode ser provado e que nunca poderá ser provado.Adotar isto como uma explicação para a causa de um fato é absolutamente ridículo.Adotar uma divindade como hipótese, é perfeitamente compreensível.Eu mesmo não ouso descartar uma explicação divina para a emergência do Universo, pois não é científico inferir a inexistência de algo.Apenas me reservo ao direito de considerá-la a menos implausível dentre outras explicações.

Em síntese, diante de um fato, afirmar que sua causa é divina por desconhecermos sua causa não é sensato.Primeiro porque não podemos provar que a causa é divina, então não vai passar de pura fé.Segundo, porque, como dizia Carl Sagan, 'Ausência de evidência não é evidência de ausência', ou seja, não é porque ainda desconhecemos a causa de um fato, que ela não existe.Como os teístas assumem como premissa básica que uma causa divina não pode ser detectada, então os fatos que não possuem causas naturais, são automaticamente adotados como milagres.O problema está em adotarem prematuramente que um fato não possue causas naturais.Como eu posso afirmar que um fato não tem causas naturais? Se teletransportasse para o passado uma televisão, os pobres humanos não iriam fazer idéia de como explicar aquilo naturalmente.Isso significa então que a televisão foi obra divina? Não existe um meio de afirmar que algo não possue causas naturais, pois não temos conhecimento de todos os mecanismos do Universo.Se soubéssemos TUDO a respeito do Universo, e pudéssemos provar que o que sabemos é REALMENTE TUDO, aí sim poderíamos adotar algo como um milagre se não soubéssemos explicar, já que, aí sim, este fato não possuiria causas naturais.Mas sabemos quase nada sobre o Universo, então onde está a sensatez em antecipadamente decidir que algo não tem uma causa natural?

A fé é, portanto, algo ilógico e irracional.Se alguém quer ser ilógico e irracional, que seja apenas dentro da sua cabeça.Mas querer enfiar sua falta de lógica e sua irracionalidade goela adentro dos outros é algo digno de pena.Pior ainda é dogmatizar crianças, cujo senso crítico ainda não está formado, com falta de lógica de irracionalidade.Que tal deixar a decisão de ser ilógico ou irracional para quando esta criança tiver idade suficiente para decidir o que quer da vida? Se crianças acreditam em Papai Noel, é óbvio que irão acreditar em qualquer baboseira que os adultos lhe ensinarem.E assim segue o ciclo memético da fé.

sábado, 4 de outubro de 2008

Razões para um deus - Explicativas

Acredito existirem duas razões básicas para devotar crença em um deus, e são elas a capacidade explicativa que uma entidade divina tem sobre o mundo natural e a capacidade reconfortante que a idéia de um deus pode exercer sobre a psiquê de um indivíduo.Caso existam outras razões, provavelmente são derivações desses dois motivos básicos.

Primeiramente, introduzo minha linha de raciocínio sobre a razão explicativa.O homem, ser pensante, se encontra diante de uma realidade, e tendo noção de sua existência dentro dessa realidade, tenta descrevê-la, entendê-la, conceituá-la.Os motivos para tal investida intelectual não se fazem importantes, tanto pode ser como tentativa para dominar essa realidade ou pura curiosidade.A questão principal é que o homem tenta descrever essa realidade, com os recursos que forem acessíveis.Podemos entender melhor essa questão lendo um livro sobre mitologia.Como minha preferida é a grega, utilizo-a como exemplo.Diante da realidade, os gregos, ainda sem conhecimento científico como o conhecemos, descreviam o que viam, o que sentiam, o que lhes era habitual, através de divindades específicas.os poetas eram os responsáveis por alcançar o patamar divino e de lá trazer as explicações para o mundo natural, através das Musas, que eram as divindades que 'sopravam' estas explicações para os poetas e poetisas.Os gregos descreviam sua realidade personificando as causas, os eventos, em divindades.O movimento habitual do Sol no céu era a carruagem do deus Apolo, responsável por carregar consigo o Sol de um extremo ao outro do céu.Os terremotos e erupções vulcânicas eram a ira de Poseidôn (Netuno), senhor dos mares e dos abalos sísmicos.Até mesmo o tempo tinha uma personificação, Cronos (Saturno).Natural esperar que as representações dessas divindades eram em formas humanas, podendo o deus se metamorfozear.
Não era possível aos gregos, séculos antes de Cristo, saber que os abalos sísmicos eram resultante do movimento das placas tectônicas, ou que os trovões não eram raios de Zeus (Júpiter), e sim nuvens carregadas eletricamente colidindo umas com as outras, ionizando o ar a sua volta e gerando o estrondo característico.O recurso que tinham a disposição era apenas a imaginação, o poder de filosofar e criar mitos para explicar o mundo natural.
Esta é, portanto, a primeira das razões que julgo existirem para conceber um deus : explicação.A vida é cheia de mistérios, o Universo idem, nada mais humano que tentar desvendá-los para poder entendê-los.Perceba que cada deus sempre carrega consigo uma carga de efeitos atribuídos a si.Um deus que não serve para explicar nada é um deus inútil.Para os ignorantes em relação a Teoria da Evolução (ou simplesmente para os que não querem aceitá-la por irem contra a idéia do deus criador), a vida é obra resultante da divindade a quem rogam culto.Para explicar um evento aparentemente sem explicação racional, recorrem a deus.O que, muitas das vezes, beira ao ridículo absoluto, como os 'mistérios' dos santos em janelas ou das formigas escrivãs.

Concuindo, portanto, todos têm necessidade de definições.Todos necessitam viver num mundo onde as coisas estão definidas, onde a causa de efeitos é conhecida.Uns admitem não saber a explicação de alguma coisa, e humildemente pesquisam para descobrir.Outros, apavoram-se por não saber a explicação de um determinado evento e rapidamente 'culpam' o sobrenatural.Já debati com um teísta que julgou que minha resposta 'Não sei' para a sua pergunta 'Como o Universo surgiu' era 'preguiça intelectual' da minha parte.Certamente, a resposta dele 'Foi Deus', não demonstra absolutamente preguiça intelectual nenhuma.Talvez falta total de intelectualidade.

Deus se faz necessário, para alguns, para explicar certos aspectos da realidade.Na minha humilde opinião, atribuir explicações a uma divindade é de um primitivismo incomparável.Não menosprezando os que isso fazem, muito menos fazendo pouco dos fabulosos mitos de diversas civilizações, até porque recursos melhores para esquadrinhar a realidade lhe eram ausentes.Deuses nada explicam.Atribuir a existência da vida, ou do Universo, a um deus, é explicar exatamente o que? Como 'Foi Deus' pode ser a explicação de alguma coisa? Como podem existir pessoas que se contentam com esse tipo de resposta? Longe de mim querer impor um necessidade profunda de querer saber das coisas nas pessoas, mas é realmente difícil compreender.

No próximo post, viso argumentar acerca da segunda razão que faz deus ser necessário para alguns, a razão emocional.E, antes, ou após, posto sobre as três categorias principais a que enquadro os deuses existentes, no âmbito explicativo, isto é, como podemos juntar os deuses em três categorias, utilizando como seletor, os mistérios que estas divindades visam explicar.

Intersubjetivas
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