domingo, 29 de março de 2009

O Início das Crenças

No post anterior, discorri sobre as duas componentes do ser humano, sem entrar em muitos detalhes, e no final iniciei um tema que sempre aparece em debates com teístas, que é a propensão humana a ter crenças em divindades.

Deixei duas perguntas : como essa rede de crenças teve início, e porque alguns permanecem crendo em um deus? Apesar do meu pouco gabarito para falar sobre isso, vou tentar, apoiando-me em alguns artigos já lidos, e na minha opinião própria.

Possivelmente, a crença em um deus teve início lá nos primórdios da humanidade, quando os macacos-quase-pelados davam passos na areia e começaram a ter noção de que aquelas pegadas eram as marcas dos seus pés.Os seres humanos têm um característica fascinante : curiosidade.Temos necessidade de descobrir coisas, de conceituar e definir.Precisamos tornar as coisas claras, nos assusta a idéia do desconhecido.A morte, por exemplo, não é a grande inimiga da maioria a toa, afinal, ninguém voltou pra contar como é o lado de lá.Apesar dos pobres mortais construirem crenças na tentativa de apazigar esse medo, na tentativa de definir o pós-morte, vemos que isso quase nunca tem um resultado satisfatório, já que mesmo tendo crenças, a grande maioria continua com medo de morrer.
Temos, então, quase como uma necessidade biológica, o intuito por definirmos algo.Quando essa características começou a aflorar na mente humana, admito não fazer a menor idéia, sei apenas que em algum momento, esta característica, mesmo que prosaicamente, aflorou.E, tendo em vista o que vou argumentar mais a frente, acredito que tenha sido imediatamente antes das primeiras crenças em divindades.
O hominídio, com sua consciência ainda em fase de desenvolvimento, provavelmente se viu indefeso frente a um mundo gigantesco que se abria diante de seus olhos.Cães adormecem e acordam tranquilamente, pois não tem consciência de sua existência.Tudo o que é necessário para que sobrevivam na realidade em que estão imersos está definido em sua componente biológica.Não precisam ser conscientes e ter um apurado senso de julgamento para sobreviverem.Já com os hominídios, provavelmente o mesmo não aconteceu.O que foi necessário, então, fazer? Começar a definir aquilo que os cercava.Definir simplificadamente, óbvio.Não me parece lógico um quase-macaco, um milhão de anos atrás, concluindo que as luzes que via no céu durante uma tempestade eram fruto do choque de nuvens com cargas opostas, e que essa colisão provocava a ionização do ar, resultando no relâmpago que estava visualizando.
Como ocorreu então essas definições? De maneira natural.O homem tinha apenas o mundo natural para ajudá-lo a definir as coisas, e em seu mundo, ele dispunha de duas figuras : ele próprio e os animais.Foi, acredito, nessa época primitiva, que começaram a surgir os primeiros deuses totêmicos e antropomórficos.
Imagine você, um hominídio totalmente primitivo, sem absolutamente qualquer conhecimento, diante de uma tempestade de proporções catastróficas.Como definir algo assim? Você dispõe apenas de dois tipos de seres que, durante suas experiências cotidianas, lhe pareceram capazes de executar ações : você próprio e os animais.Durante seu dia-a-dia, o hominídio era constantemente exposto a ações que eram realizadas por estes dois seres.Nada mais normal que julgar uma tempestade torrencial como uma ação executada por algo.Como o hominídio nunca vira uma pedra executando nada, perfeitamente compreensível que julgasse uma tempestade como obra de alguma entidade que guardava certa semelhança com os dois seres com quem convivia.

Não estou afirmando que logo após a primeira tempestade, o hominídio correu pra primeira árvore, tirou uma lasca de madeira e esculpiu a figura do primeiro deus.Estou apenas demonstrando como poderia, um hominídio primitivo, definir aquilo que presenciava.Definir era preciso para sobreviver, e saciar sua necessidade de conceitos.Definiam, portanto, com as ferramentas que lhe eram possíveis.Com o tempo, a mente humana foi evoluindo mais, as definições necessitaram acompanhar, e as idéias, como os seres, são passíveis de evolução.Vieram, portanto, os primeiros deuses que tinham características e formas.

Se a idéia de deus é um conceito tão primitivo, porque milhares continuam crendo? A resposta estou dando nos meus outros posts, o primeiro Razões para um deus - Explicativas, e o segundo virá depois.

Ante a esses argumentos, podemos concluir que a idéia de que nascemos com a crença em um deus é ridícula.Primeiro porque deuses fazem parte da cultura humana, são idéias, e nascemos desprovidos de idéias.Elas nos são passadas, e assimiladas, portanto, a crença em um deus vem pós-amadurecimento, e não pré-nascimento.E segundo porque podemos provar que os membros da espécie Homo Sapiens Sapiens só se tornam humanos, da maneira que definimos está palavra, quando mantém contato com outros humanos, através das diversas crianças feras encontradas em ambientes inusitados.Uma boa leitura a respeito disso é o site www.feralchildren.com , com diversos casos documentados.Pesquisar, primeiramente, sobre Amala e Kamala, duas irmãs que foram encontradas após terem sido criadas por lobos.A mais velha, não recordo agora se Kamala ou Amala, andava quadrupedalmente, rosnava e mostrava os dentes como lobos.Foram submetidas a um tratamento de socialização, mas ela morreu tendo aprendido apenas por volta de 50 palavras e umas coisinhas a mais.Ela não ria, não expressava emoções.Porque? Porque não era humana, não fora criada com outros humanos, não aprendeu a ser um humano.Era um lobo, apesar de pertencer a outra espécie.Porque não encontraram Kamala ajoelhada, de mãos juntas, orando? Ou porque não encontraram-na realizando qualquer outra coisa que pudesse ser relacionada a um louvou a algum deus? Porque ela não teve nenhum comportamente como esse durante o tempo que era socializada? Simples, porque ela não nasceu com nenhuma crença em nada.Porque sua segunda componente humana era ausente.Não poderia ela expressar nenhuma crença, pois crenças são idéias que são passadas, e não coisas que nascem conosco.

Agora sabemos o que acontece com a criança que é largada sozinha na ilha, sem contato com humanos.Vai andar nua, provavelmente adquirirá comportamento semelhante a alguma espécie com que mantiver contato, vai caçar como os membros dessa espécie, ou colher frutas, subir em árvores, andar quadrupedalmente, qualquer coisa, menos ajoelhar-se e rezar.

Ps .: Ao amigo Thiago, agradecimentos pela indicação do artigo sobre a busca pela verdade num sentido extra-moral, que foi um dos que utilizei para dar base aos argumentos.

Intersubjetivas
Politicamente Incorreto
A Herege