sábado, 27 de setembro de 2008

Verdade Objetiva x Verdade Subjetiva

Aproveitando o embalo sobre subjetividade e objetividade, resolvi escrever mais uma vez sobre o tema, antes da segunda parte do artigo sobre Realidade Objetiva e Subjetiva.Trato, agora, do tema 'verdade', tema este que tem sido motivo de discussões infindáveis ao longo dos séculos.Meu foco principal é argumentar que, diferente do que algumas correntes filosóficas postulam, nem todas as verdades existentes e nem todas que ainda irão vir a existir são totalmente subjetivas, não existindo, portanto, qualquer verdade objetiva.

A argumentação é bem simples, e serei bem conciso.No artigo anterior, a primeira parte, argumentei que a existência de uma realidade objetiva é algo necessário para que possam existir estruturas subjetivas.Não vou me alongar nesse tema, já que o tudo que havia para ter falado, já foi dito no supracitado artigo.
Conceituo verdade como um fato irrefutável derivado de uma estrutura qualquer (em se tratando de realidade).A gravidade, por exemplo, um fato, é uma verdade dentro da estrutura que está imersa, no caso, o Universo.Ela é irrefutável pois, dentro de suas especificações, sempre acontece e todos os seres e coisas estão sujeitos a essa verdade, aceitando ela ou não, acreditando nela ou não.Portanto, a gravidade é uma verdade física do nosso Universo.Porém, a gravidade pode ser questionada.Para mim, ela é atuante, já que estou preso na Terra, e percebo isso.Mas imagine um louco internado no hospício.Suponhamos que em sua cabeça, ele formule uma realidade onde não existe gravidade, e que ele voa livremente por aí.Quem estará certo, eu ou o louco? Qual será a realidade válida, eu ou a da pobre lunático? Eu direi que é a minha, ele dirá que é a dele.É difícil decidir, filosoficamente é uma questão pertinente, que chega a incomodar, se entendida sua profundidade.Sendo assim, a gravidade deixa de ser uma verdade objetiva e passa a ser simplesmente mais uma verdade subjetiva? Não sei, e esse não é o ponto onde quero chegar (discutir quais verdades são objetivas e quais são subjetivas).Apenas dei uma introdução, para poder chegar no ponto principal.

Como garanti a existência de uma realidade objetiva, irrefutável, necessária para que existam estruturas subjetivas, então existem verdades derivadas dessa realidade objetiva.Existem pares de causa-efeito pertencentes a essa realidade que são obrigatoriamente absolutos, ou então essa realidade objetiva seria apenas mais uma entre tantas outras subjetivas possíveis.Se é apenas uma outra realidade subjetiva, então devemos ir um nível acima e descobrir outra realidade potencialmente objetiva, com seus pares, portanto, de verdade absoluta.

Uma analogia, para ser mais claro... No exemplo anterior, não posso afirmar se a gravidade é uma verdade absoluta, pois ela parece atuante para mim, mas não para o pobre lunático no hospício.Como não tenho meios de definir qual realidade é objetiva, posso considerar que ambas sejam subjetivas.Ainda que ambas sejam subjetivas, haverá uma realidade objetiva pode detrás de nossas duas realidades subjetivas, e dentro dessa realidade subjetiva, poderá haver um fato derivado dela, no caso, uma 'gravidade' objetiva, atuante, absoluta.Essa 'gravidade' deverá ser irrefutável, pois é intrínseca a estrutura, esta, objetiva, portanto, irrefutável também.

Apesar da existência dessas verdades objetivas pertencentes a uma realidade objetiva estar garantida, não podemos precisar duas coisas : primeiro, quais verdades são objetivas, absolutas (isso é devido ao fato de não podemos definir se uma realidade é objetiva ou não) e segundo, quantas realidades subjetivas existem, nem qual é a última realidade, a objetiva.Isso parece ser impossível pois sempre podremos postular que existe um nível de realidade acima do nosso.A realidade do louco, do exemplo, seria a realidade subjetiva primeira.A realidade dele está imersa dentro da minha realidade, que poderia ser a realidade subjetiva segunda, ou a realidade objetiva única.Como posso provar que minha realidade não é apenas uma outra subjetiva, como a do louca, havendo uma realidade objetiva única acima da minha, ou uma outra realidade subjetiva terceira?

Esse, entretanto, não é o foco da discussão também.Apenas quis demonstrar que a existência de verdades objetivas é algo garantido, devido a garantia que temos da existência de realidades objetivas.Uma realidade demanda uma estrutura, uma estrutura demanda fatos que compõe ela própria.Estes fatos, por definição, compõe um conjunto de verdades, pertencentes a essa estrutura.Chamamos esses conjuntos de verdades.Como essa realidade objetiva garantida é a realidade final, única, e ela é tudo o que existe, então esses fatos estão acima de qualquer subjetivação, sendo, portanto, puramente objetivos.

Concluo, portanto, que verdades absolutas necessitam existir, embora sejamos incapazes, pelo menos por enquanto, de definir quais são elas, como são ou quantas são.Esse artigo, de quebra, também responde a um artigo antigo que postei aqui.

sábado, 20 de setembro de 2008

Realidade subjetiva x Realidade objetiva - Parte 1

Normalmente, em discussões, me deparo com argumentos do tipo "A realidade é uma ilusão" ou "Você não pode provar que não sou apenas fruto da sua imaginação" ou ainda "Você não pode provar que você mesmo existe".Esse tipo de pensamento pertence àqueles que acreditam que a realidade é puramente subjetiva, inteiramente criada pela mente humana.Somos, então, uma grande ilusão, criada por nossas próprias mentes.Quem já viu Matrix sabe que 'se real é aquilo que você pode tocar, ouvir, cheirar, então real são impulsos elétricos enviados ao seu encéfalo, interpretados pelo próprio, gerando assim a realidade que em que você acredita'.Isso tem, de fato, um fundo de veracidade, mas esse argumento está longe de evidenciar que somos apenas ilusões, e que a realidade objetiva não existe.

Até mesmo o mais voraz defensor da subjetividade é obrigado a aceitar a existência de uma realidade objetiva.Peguemos o exemplo clássico, aquele em que tudo ao seu redor, o computador que está agora a sua frente, a cadeira em que está sentado, seus amigos, os carros que trafegam na rua, tudo é apenas um fruto da sua imaginação.Nada tem existência real, portanto, a realidade objetiva é totalmente subjetiva.Há uma falha fatal neste pensamento : o ser subjetivador, você, não pode estar unicamente dentro dessa realidade subjetiva.Em outros termos, você não pode unicamente ser fruto da sua própria imaginação, pois isso cria um paradoxo.Seria como você estar sonhando com você, mas você existe apenas dentro daquele sonho, e não fora dele.Como poderia então, estar sonhando algo?



O agente subjetivador, chamemos assim, tem, por necessidade, que estar da sua própria realidade subjetiva (ele pode ter uma projeção de si dentro dela, obviamente, mas a raiz da subjetivação tem de vir de fora).Estando fora da realidade subjetiva, temos duas situações possíveis : ou ele está imerso em outra realidade subjetiva, ou ele faz parte de uma realidade objetiva.Caso ele faça parte de uma outra realidade subjetiva, tem de haver outro agente subjetivador que está criando aquele realidade.Novamente, temos dois casos : ou esse agente faz parte de uma outra realidade subjetiva, ou de uma realidade objetiva.Como parece lógico, não pode haver uma estrutura infinita de agentes subjetivadores sem um agente final que esteja fora dessa cadeia de realidades, imerso em uma realidade estruturalmente objetiva, criando toda essa cadeia.



A partir do momento que temos a existência de uma realidade objetiva como fato, resta-nos perguntar como é essa realidade objetiva.Seria apenas um encéfalo coberto pelo mais absoluto nada, criando uma realidade subjetiva? Isso parece meio estranho.Essa explicação é fraca, e essa realidade objetiva necessita de uma estrutura, da mesma forma que a realidade subjetiva necessita de uma, para existir.
Em termos mais simples, como grande fã de Matrix, vou fazer uma analogia para que o entendimento fique mais fácil : imagine aquele mundo criado pela Matrix.Aquela seria nossa suposta realidade subjetiva.Enrolando um pouco com o enredo do filme, imagine que todas aquelas bilhões de pessoas eram apenas criações, apenas bits, da mesma forma que qualquer outra coisa nessa realidade."Viu, é exatamente assim nossa realidade, tudo uma ilusão, nada existe, sou apenas imaginação".Mas, peraí, de acordo com meu argumento, tem de haver um agente subjetivador, que seria aquele que recebe essas informações e cria esse mundo subjetivo em sua ferramenta de subjetivação.No caso do filme, esse agente seria Neo (com o roteiro um pouco embolado).Ele que receberia todas essas informações, e sua ferramenta subjetiva, seu encéfalo, criaria todo aquele mundo irreal, mas que pareceria real, objetivo, para ele.Veja como essa analogia se encaixa perfeitamente, pois, embora exista o mundo subjetivo, o objetivo também existe : o mundo das máquinas, que são as criadoras de Matrix, e as responsáveis por inserirem as informações na mente de Neo, para que ele pudesse criar essa realidade.Embora Neo tenha uma projeção de si em Matrix, ele também tem sua existência concreta na realidade objetiva.Esse mundo das máquinas poderia ser outra realidade subjetiva, criada pela mente de alguém, mas como argumentei, esse alguém que está subjetivando este mundo das máquinas, onde, por sua vez, Neo subjetiva Matrix, tem de ter uma existência concreta em uma realidade objetiva, ou entraremos num loop infinito, que não possui qualquer estrutura para o sustentar.

Chega de 'subjetivação' e 'objetiva' por hoje, numa outra oportunidade termino esse pensamento, argumentando o que acredito ser a verdadeira subjetivação e o que vem a ser a realidade objetiva (e como ela pode ser inferida via Ciência).

Link da imagem original : http://publicidade20071.files.wordpress.com/2007/08/pensador.jpg

domingo, 14 de setembro de 2008

Provando indiretamente - Parte 2

Após ter definido os requisitos mínimos para que algo possa ser objeto de análise (possuir efeitos e características), demonstrar como posso provar indiretamente a inexistência de algo torna-se uma tarefa bem simples.
Vou usar o deus cristão para demonstração.Antigamente, antes do advento da ciência, acreditava-se que o mundo havia sido criado em sete dias e que o homem tinha sido criado da maneira que é hoje, no Jardim do Éden (obviamente, me refiro ao período pós-Constantino, e não há milênios atrás na História, já que outros deuses existiam muito antes da criação do deus cristão).A criação do mundo e do homem eram atribuídas a um algo bem definido, Deus.Temos, portanto, características e efeitos, tornando esse deus cristão objeto passível de comprovação.Como já deve ter percebido, o segredo para comprovação indireta da inexistência é bem simples : demonstrar que a causa para um efeito atribuído a um algo, não é derivada desse algo, e sim de algum fenômeno natural.
Darwin, portanto, matou o deus cristão com sua teoria sobre a evolução.Veja bem, tinhamos, até então, um algo bem definido em suas características e a criação do homem era um dos efeitos atribuídos a esse algo.Portanto, Deus era um ser que vivia no céu, bondoso e onisciente, e havia criado os seres humanos, provendo-lhes alma com o sopro da vida.A partir do momento que Darwin demonstrou que somos frutos de uma evolução controlada por um processo cego chamado de seleção natural, intrínseco a estrutura do Universo, ele provou indiretamente que Deus, o ser que vivia no céu, bondoso e onisciente, e que criou o homem, inexiste.Não há espaço para deus na evolução humana, pois ela pode ser explicada pela evolução.Deus torna-se uma hipótese totalmente desnecessária.Crer que descendemos a partir de Adão e Eva, que foram criadas por Deus, da maneira como Gêneses descreve, é motivo para risadas e, diria mais, de pena.

Mas, se é tão fácil assim provar indiretamente que deus inexiste, então porque ainda existem tantos crentes nele? Primeiro porque, para quem crê, provas não significam nada.Se eu quiser acreditar que trovões são a ira de Zeus no Olimpo, podem falar o que quiserem, podem até mesmo criarem trovões em laboratório para me demonstrar que não passam de efeitos elétricos naturais, mas vou continuar com meus olhos tapados pela minha fé tola e vou continuar atribuindo trovões a ira de Zeus.E segundo, e mais importante, porque Deus, pelo menos o cristão, tem uma característica muito específica : se esconder nas trevas do conhecimento.É como baratas que fogem para debaixo da cômoda quando acendemos a luz.Em outro post futuro, detalho mais sobre os tipos de deuses existentes, mas para agora, basta adiantar que o deus cristão possui atrelado a si três grandes efeitos : a criação do homem, a criação da evolução do homem e a criação do Universo.
Até antes de Darwin, dois desses grandes efeitos eram conhecidos, a criação do homem e a criação do Universo.Pós-Darwin, que demonstrou que o homem não foi criado, e sim evoluiu, entrou em cena o terceiro grande efeito, a criação da evolução do homem.Agora que não era mais preciso Deus para explicar como o homem surgiu, pois tínhamos uma resposta natural para isso, surgiu a dúvida : mas quem deu origem ao primeiro ser que começou o processo evolutivo? Perceba aqui a analogia que fiz : antes, a luz da sala estava apagada e Deus, como uma barata, era livre para percorrer toda a sala em segurança.Darwin abriu a porta e acendeu a luz, ou seja, iluminou-nos com conhecimento, reduzindo a escuridão dos mistérios da Natureza, e Deus, que detesta a claridade, como baratas, correu para debaixo da cômoda mais próxima de si, afim de se proteger da luz.Deus correu para a lacuna mais próxima de si.Este é o verdadeiro deus das lacunas.

A idéia de deus preencheu o nossa ignorância sobre o começo do processo evolutivo, permanecendo, então, viva.Fora isso, o outro grande efeito, a criação do Universo, continuava também atrelada a idéia desse deus, pois não havia nenhuma outra alternativa natural para ela.Foi então que duas novas descobertas rasgaram nosso véu da ignorância mais um pouco : o começo do processo evolutivo foi teorizado por Oparin, e demonstrado em laboratório que é possível moléculas orgânicas surgirem espontaneamente em um cenário como o da Terra Jovem, novamente tornando-se desnecessária a intervenção divina, e a teoria do Big Bang, que foi demostrada por diversos cientistas, entre eles Hubble, que provou que o Universo está em expansão.A vida agora não precisa de mais nenhuma intervenção divina para ser explicada, e até mesmo o Universo já não precisava.Dessa vez, Oparin entrou em nossa sala imaginária com um holofote e, logo atrás, Hubble tirou os móveis.Deus então teve que correr e se esconder mais uma vez, em uma sombra que ainda permanece em nosso conhecimento, que seria 'Como o Big Bang funcionou?'.Deus, para muitos, é a resposta, embora já tenha sido demonstado várias e várias vezes que essa idéia é completamente desnecessária para explicar qualquer coisa que se prestava a explicar.

É importante ressaltar um fato que pode ter passado despercebido.Deus, no começo, era responsável pela criação do homem e do Universo.Após sucessivas comprovações científicas, Deus passou a ser o suposto criador do Big Bang.Este deus e o primeiro NÃO SÃO O MESMO DEUS.Eles podem compartilhar características, mas não são de maneira alguma o mesmo deus.Todos os anteriores morreram, todos foram comprovados inexistentes, mas esse continua ainda vivo.Crentes fanáticos e ortodoxos preferem tapar os olhos e ouvidos para a ciência, e continuar sua crença tola de que viemos de Adão e Eva e que a Terra tem 6.000 anos.Acho que deveria ser propostos para estes que abdicassem de tudo o que a ciência fez, afinal, consideram-a inútil, e fossem viver nus na floresta, levando consigo apenas uma bíblia (escrita a mão, obviamente.Se bem que lápis também são contribuições científicas à humanidade).Acho que pessoas assim merecem tanta atenção quanto os que estão internados em hospícios e julgam serem Napoleão.Já os teístas mais realistas, usam de diversos artifícios para não deixarem seu deus morrer.Propõem novas interpretações da Bíblia, afirmam que sua linguagem e simbólica e não deve ser interpretada ao pé da letra, entre diversas outras respostas estúpidas apenas para não terem que deixar de acreditar em idéias já comprovadas falhas.Porém, parecem desconhecer que o deus que acreditam agora, não é mais o mesmo de 300, 400 anos atrás.Esse já morreu e foi enterrado.Este novo é apenas uma versão moderna daquela idéia prosaica, bem como os deuses romanos eram apenas novas interpretações dos antigos deuses gregos.Seria isso um sinal de evolução? Estaríamos nós enxutando cada vez mais as idéias arcaicas de Deus e chegando cada vez mais próximo da sua verdade? Eu diria que não, afinal, Deus vem perdendo terreno a cada dia mais.Daqui a pouco não vai sobrar uma sombra sequer para a barata se esconder e acabará sendo esmagada pelos pés do último que retirou o móvel ainda existente.

É desnecessário demonstrar que este método serve para qualquer deus existente, bem como para qualquer entidade mágica que possa ser criada pela mente humana.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Provando indiretamente - Parte 1

No post anterior, argumentei como é impossível provar diretamente a inexistência de algo.Tentemos provar a inexistência de um Unicórnio Rosa Invisível, o URI.Não podemos apelar para a falta de evidências de sua existência, pois isto não prova a inexistência de alguma coisa.Um credor na existência de URI poderia dizer simplesmente que não temos tecnologia ainda para detectarmos Unicórnios Rosas Invisíveis, ou que sua existência está segura das vãs tentativas humanas de prová-la.Não existem provas da inexistência de algo, pois algo que não existe não deixa prova alguma disso.Independente de quantos rodeios tentemos fazer, ainda assim será impossível provar que inexistem URIs.É justamente por isso que o ônus da prova cabe àquele que afirma, pois podemos provar que algo existe, e nunca para aquele que nega, pois não é possível provar a inexistência de algo.Lembrando sempre que a posição de negação não precisa de justificativa.Não preciso ter outros motivos para não aceitar a existência de alguma coisa além do motivo intrínseco, a falta de evidências de sua ausência.Portanto, aquele que afirma que algo não existe, ou está afirmando equivocadamente, já que não se pode provar a inexistência de algo, ou chegou a essa conclusão baseando-se em provas indiretas, que é o que tentarei conceituar aqui.

Pegarei URI novamente como exemplo.Digamos que um credor em URI afirme que URI existe.Certamente, o credor em URI irá atribuir características a ele (já atribuiu quando o definiu como 'Rosa' e 'Invisível'), bem como atribuir efeitos atrelados a essa existência.Apenas afirmar 'URI existe' é uma proposição descabida de sentido.O que é URI? Como URI é? O que URI faz ou fez? Quando definimos algo, atribuimos a este algo características que o definem.Se eu disser que hoje vi um Smorgle, você não fará absolutamente idéia alguma do que eu estou querendo dizer, já que não 'Smorgle' é apenas uma palavra.Ao definí-lo, ao atribuir características ao Smorgle, será possível ter uma idéia do que eu quis dizer.Voltando ao caso do URI, o credor irá definir suas características e efeitos.É possível eu definir algo apenas pelas suas características, mas para provar a sua potencial existência, é necessário que eu também cite seus efeitos.Se eu apenas atribuir características aos Smorgle, não estou provando que ele potencialmente existe, apenas estou criando um algo baseado nas características que eu atribui.Para demonstrar que o Smorgle tem potência para existir, eu poderia pedir para que ele desse uma bofetada no amigo para quem contei que o encontrei.Ao receber a bofetada, eu afirmaria para ele 'Foi Smorgle quem deu'.
Portanto, eu acabei de definir uma coisa atribuindo características e efeitos.Um algo apenas com características é inútil, inexistente.Um algo com características e efeitos tem potencialidade para existir.Atente para a palavra que repeti várias vezes : potencialidade.Sim, um algo definido em suas características e efeitos tem potencial para existir, e não existe com certeza absoluta.No caso do Smorgle, um outro amigo meu fantasiado de Smorgle poderia tê-lo bofeteado.Smorgles, então, não existiriam.Seria apenas uma brincadeira entre eu e meu amigo.Inventamos um ser abstrato, atribuimos características a ele, que foram imitadas com uma fantasia e efeitos.Entretanto, isso não se mostrou uma prova da existência desse ser.

Concluindo essa primeira parte, para que algo possa ser considerado tendo potência para existir, é necessário que tenha características e efeitos.Um algo sem características e efeitos é como o Dragão da garagem de Sagan.E um algo que tenha apenas características não demonstra sua potencialidade de existência apenas por ter características definidas.Eu posso definir agora mesmo um Strubix, que é um ente mágico voador, que tem algumas dezenas de metros de envergadura de suas quatro asas e que tem garras bem afiadas em seus 10 pés.Eu apenas definir Strubix não demonstra que ele pode existir.Obviamente, Strubix é apenas criação da minha cabeça.Portanto, a combinação 'características' e 'efeitos' nos dá algo para pesquisar.Tendo algo bem definido juntamente com alguns efeitos atribuidos a esse algo nos dá as ferramentas para correr atrás das evidências da existência desse algo.

Na segunda parte, demonstro como URI e diversas outras entidades mágicas, como deuses, mesmo sendo inacessíveis a provas diretas, podem ser atingidos por provas indiretas.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Ateísmo

Não são poucas as vezes que vejo ateus sendo comparados a teístas, ou sendo classificados como imorais, infelizes, pobres coitados.Como essa segunda 'classificação' não merece sequer se cogitada, vou apenas me ater a primeira 'classificação'.
Normalmente, consideram o ateísmo como uma 'afirmação explícita' da idéia da não existência de alguma deidade.Como certas pessoas consideram a negação explícita algo que não deve ser feito, então automaticamente consideram o ateísmo como uma filosofia que não deve ser adotada.Estas pessoas, que não são teístas e também não querem ser classificadas como ateístas, devido a essa condição, rotulam-se como agnósticos.Porém, estas pessoas desconhecem dois fatos importantes.

O primeiro deles é referente ao agnosticismo.O agosticismo não é uma terceira opção ao teísmo e ao ateísmo.O agnosticismo se refere apenas a crença na capacidade ou na incapacidade do homem, através da razão ou da ciência, chegar a uma conclusão sobre a questão divina.Em outras palavras, um agnóstico é aquele que acha que essa conclusão é impossível, que o homem nunca irá chegar a uma resposta, pois uma deidade, caso exista, estaria num lugar inalcançável para nós, meros mortais.Morreremos e nunca iremos descobrir se existe ou não um deus.Note como essa posição filosófica nada diz a respeito da crença ou descrença direta nessa deidade, refere-se apenas a capacidade ou incapacidade de conceber sua existência.Um ateu pode ser um agnóstico (ele não aceita as idéias existentes sobre deidades, e acha também impossível sabermos com certeza se alguma existe) ou gnostico (ele não aceita as idéias existentes, e acredita que é possível sim chega a uma conclusão sobre esse assunto), bem como um teísta por ser agnóstico (ele acredita em alguma divindade, mesmo sabendo que é impossível saber com certeza se ela existe ou não) sendo chamado de 'fideísta', ou gnóstico (ele acredita em alguma deidade e acha que é possível provarmos a existência dessa divindade).O agnosticismo, portanto, não é uma terceira opção ao teísmo ou ateísmo.Não é a 'posição mais inteligente' que alguém pode adotar porque acha que é impossível emitir alguma conclusão sobre a existência de divindades.É apenas uma filosofia que pode ser mesclada com o teísmo ou ateísmo.

O segundo fato importante é que o ateísmo, pelo menos eu o considero assim, não é uma 'afirmação explícita' da idéia da existência de alguma divindade.Ser ateu não significa AFIRMAR que não existe qualquer divindade.O ateísmo, como o considero, é uma 'não aceitação' das idéias teístas.A ciência humana não nos permite negar diretamente a existência de alguma coisa, embora permita inferir a inexistência indiretamente (falo sobre esse assunto em outro post).Afirmar que algo inexiste é sem sentido, pois são necessárias provas ou, no mínimo, evidências para se poder afirmar alguma coisa.Se algo não existe, então provas de sua inexistência também não existem.Fora isso, 'Ausência de evidência não é evidência de ausência', dizia Carl sagan.Não termos prova da existência de alguma coisa não implica que essa alguma coisa não existe.Um exemplo : não podemos afirmar que um Unicórnio Rosa Invisível não existe.Tente provar para si mesmo que não existe um URI (Unicórnio Rosa Invisível).'Não existe pois nunca vi um URI' não é uma prova, já que nunca ter visto não implica em não existir.Eu nunca vi um ornitorrinco ao vivo também.'Não temos evidências da existência de um URI' também não é uma prova, como dizia Carl Sagan.Só fomos ter evidências de buracos negros há pouco tempo atrás, e nem por isso ele não existia quando não o havíamos descoberto.

Perceba que não é possível provar diretamente que um URI inexiste.E é exatamente aí que entre o ateísmo.Não é porque é impossível provar que inexiste um URI que eu serei obrigado a aceitá-lo.Não há qualquer motivo para que eu aceite a existência de um URI, e isso é bem diferente de eu afirmar que ele inexiste.Afirmar é errado, pois como mostrei, não podemos afirmar diretamente a inexistência de alguma coisa, mas não aceitar é uma posição bastante sensata frente a ausência de motivos para eu aceitar a existênca de um URI.Não são poucas as vezes, também, que vejo teístas afirmando que ateus estão errados pois não é possível provar a inexistência de deus.Primeiro, o ônus da prova cabe a quem afirma.Eu posso provar que algo existe, mas não posso provar que algo inexiste.Portanto, quem deve provar a existência de um deus é aquele que afirma que ele existe, e não aquele que não aceita é que deve provar que ele não existe.Eu não preciso de motivos para não aceitar a existência de algo cuja existência não foi provada.Só o fato de não ter sido provada a existência já é um motivo para a minha não aceitação.E, segundo, o ateísmo, como esto propondo aqui, não é a afirmação da inexistência, é a não aceitação dela.
Só existem duas posições possíveis quando o assunto é deus : aceitar ou não aceitar.Todos aqueles que professam a crença em um deus aceitam a sua existência.Todos aqueles que não professam uma crença, incluindo aqueles que não declaram abertamente que não a possuem (esse é um ponto importante) não aceitam a sua existência.Ateu não é apenas aquele que abertamente não aceita a idéia de um deus, é aquele também que responde 'Não sei' ou 'Nunca parei pra pensar sobre o assunto' ou ainda 'Não afirmo nada pois sou agnóstico'.Mas porque?Porque, como disse anteriormente, só existem duas posições possíveis.Se você não afirma aceitar alguma divindade, então não a aceita, logo, está enquadrado no ateísmo.A definição que aqui propus do ateísmo é a simples não aceitação de alguma divindade, e não uma afirmação explícita de sua não existência, como o senso comum dita.Até mesmo aquele que se acha incapaz de chegar a alguma conclusão a respeito da existência de deus pode ser um ateu por definição, pois achar impossível chegar a uma conclusão não implica em não poder assumir uma posição a respeito dessa conclusão.Se eu não sigo o teísmo, ou seja, se eu não participo de alguma religião, ou se eu não nutro alguma crença em algum ser superior, então sou ateu, mesmo que eu não afirme que alguma divindade existe ou não.

O preconceito com a palavra 'ateísmo' demonstra ser fruto apenas da ignorância com relação a definição.É claro que, diferente do teísmo, os ateus compartilham apenas uma característica : a descrença.Portanto, eu posso ser um ateu que me enquadro nessa definição e admitir, por exemplo, que algum deus deísta possa ser o responsável pela criação do Universo, como eu também posso ser um ateu que convictamente afirmo que não existe qualquer deus.Estaria eu deixando de ser ateu por afirmar isso? Obviamente não, apenas pensaria diferente de vários outros ateus, mas ainda assim seria um ateu.Estaria certo ou errado? Não sei, quem sou eu pra ter a resposta pra essa pergunta tão relativa.A grande falha aqui é que muitos desconsideram o ateísmo por terem tido experiências desagradáveis com possíveis ateus prepotentes ou arrogantes.A generalização equivocada acaba destruindo a idéia de ateísmo para certas pessoas, que acabam achando que ser ateu é ignorar todas as outras idéias e afirmar com toda a convicção que um deus não existe.Equivocada porque isso não é pertencente ao ateísmo por definição, é apenas uma característica daquele ateu em particular.Seria como eu considerar todos os evangélicos como fanáticos e imbecis porque vi um evangélico no meio da rua com a bíblia na mão, importunando a todos com seus berros e pregações.

Deixemos de lado, portanto, o senso comum, e passemos a procurar melhor sobre a definição das idéias para que evitemos preconceitos tolos e infundados como este.

Intersubjetivas
Politicamente Incorreto
A Herege