quinta-feira, 24 de julho de 2008

Não existem verdades absolutas?

Certa vez, debatia com um teísta cuja certeza de que não existem verdades absolutas só perdia pra sua certeza de que existe um deus, o que é até irônico.Essa frase ecoou na minha cabeça por um tempo, até que descobri que tal afirmação, de que não existem verdades absolutas, é desprovida de sentido, tanto semântico quanto prático.

Pra começar, podemos analisar a frase."Não existe verdade absoluta" admite duas situações possíveis.A primeira situação nos garante que qualquer que seja a verdade, ela não é absoluta."Não existe verdade absoluta" é uma verdade que, nessa situação, não pode ser absoluta, ou seja, ela tem que ser falseada, o que nos garante que existe pelo menos uma verdade absoluta.Se existe uma única verdade absoluta, então a afirmação inicial perde o total sentido.Essa proposição lógica entra em contradição consigo própria.Em resumo, "Não existe verdade absoluta" não pode ser uma verdade absoluta, já que ela própria garante que nenhuma verdade pode ser, o que significa que deve existir pelo menos uma verdade absoluta para que a afirmação deixe de ser absoluta.
A segunda situação que podemos admitir é que essa afirmação se refere a um conjunto de verdades, onde estão contidas todas as verdades existentes menos a verdade "Não existe verdade absoluta".Essa afirmação se refere apenas a essa conjunto de verdades, não regendo a si própria.Bom, isso é criar uma situação para contornar o problema, que pode ou não ter valor prático.No caso, esse contorno não possui valor prático.Primeiro, não conhecemos todas as verdades que são passíveis de existência.Para afirmar algo assim, seria necessário, além de conhecer todas as verdades, provar que todas elas são relativas.Segundo, essa prática só teria valor se descobríssemos uma regra intrínseca que afirmasse que apenas um número exato de verdades existem ou podem ser conhecidas, pois sem isso nunca poderemos ter certeza se atingimos ou não o número de verdades passíveis de existência.Terceiro, teríamos que descobrir uma regra que pudesse ser aplicada a todas as verdades, provando que todas são relativas (apenas afirmar que elas não são absolutas não é uma prova), cuja excessão seria a existência de uma verdade que fosse absoluta (no caso, a afirmação da não existência de verdades absolutas).Porém, isso nos deixa em apuros novamente, pois essa regra teria que ser absoluta, ou então sua relativização seria a existência de mais de uma verdade que não se enquadrasse na categoria absoluta.As coisas mais complicam do que simplificam, e isso não é bom.Quarto, teríamos que descobrir um método para provar sem sombra de dúvidas que toda verdade seria eternamente relativa, e nunca atingisse um status absolutista.Como deveria ser esse método, eu não faço idéia.Não me parece lógico que uma afirmação vá eternamente ter valores relativos, e nunca chegarão a um consenso sobre seu valor único e absoluto.E outra, este método de avaliação deveria ser também uma verdade absoluta, ou não seria confiável.

Em síntese, podemos ver que a afirmação é desprovida de sentido.Afirmar que não existem verdades absolutas põe a própria afirmação em questão, o que invalida a idéia.Os meios de contornar esse problema só trazem ou mais problemas, ou uma quantidade maior de verdades que deveriam ser adotadas como absolutas.Quanto mais verdades elevamos ao status de absolutas para proteger a afirmação inicial, mais difícil se torna filtrar aquilo que é verdade absoluta daquilo que é verdade relativa.Sem um método absoluto de validação, torna-se ridículo afirmar tal coisa.
A grande verdade (absoluta ou relativa, não sei) é que essa afirmação é uma deturpação da falseabilidade científica.Uma descoberta científica admite ser questionada, e até abandonada ou melhorada de acordo com os fatos ou experimentos realizados.A maneira pela qual podemos verificar a validade de uma teoria é pondo-a a prova, tentando falseá-la.Quanto mais resiste, mais forte e provável se torna essa idéia.Mas isso não significa que essa verdade será relativa para sempre, apenas de que ela será questionável para sempre.Se á absoluta ou não, também não podemos afirmar, pois não existe o tal método de verificação de absolutismo ou relativismo.Acredito também que uma pequena deturpação das teorias de Einstein contribuem para isso.Uma idéia científica sempre chega totalmente contaminada no popular.

Portanto, não há cabimento em se afirmar que inexistem verdades absolutas, pois não conhecemos todas as verdades, nem provamos que todas são relativas.Mesmo que provássemos, teríamos ainda que provar que apenas aquele número de verdades pode ser concebido.Se fizéssemos isso tudo, ainda assim teríamos um conjunto de verdades absolutas, o que invalida a afirmação de que elas inexistem.Deveriámos entrar criar um conjunto de verdades absolutas separado do de verdades relativas, e mudar a afirmação para "Existem X verdades absolutas apenas".

4 comentários:

Thiago disse...

um niilista defendendo a possibilidade de que hajam verdades absolutas... esse mundo tá perdido mesmo, hahahahaha.

mas sério agora: se existir algo como uma verdade absoluta, então acho que ela terá de ser mais que uma evidência: terá que ser uma crença. só assim.

Didi disse...

Não estou defendendo a existência de verdades absolutas.Estou criticando a afirmação de que não existem verdades absolutas.
Criticar o capitalismo não me faz um socialista, apenas me faz um crítico ao capitalismo.Se eu nego absolutamente a possibilidade de uma sociedade capitalista ou se apenas aponto as fraquezas do sistema para que possa ser melhorado, aí é outra história.

Justamente, afirmar que uma verdade é absoluta é tanto um achismo quanto afirmar que não existem verdades absolutas.Não há um método de filtragem para sabermos se algo é ou não absoluto.Nem mesmo a verdade "Nunca poderemos saber se alguma verdade é absoluta ou não" é absoluta, pois pressupõe que nunca acharemos um meio para determinar algo como absoluto, o que pode ou não acontecer.

Anônimo disse...

seu blog me dá tesão !
uiiiiiiiiii

Thiago disse...

eu sei que você não está defendendo a existência de verdades absolutas, mas tão-somente a possibilidade de que haja [e não "hajam"...] tais verdades. deixa aberto o campo por uma via negativa em lugar de encerrá-lo numa via positiva. não é disso que falamos?

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