sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Primeiro Motor Imóvel e Ser Necessário e Ser Contigente

Seguindo na série argumentos famosos, continuo analisando os argumentos de Tomás de Aquino sobre o ponto de vista cético.No post anterior, analisei apenas o segundo de seus argumentos, ou 'Sergunda Via', como é chamado, por ser um dos mais utilizados por teístas para tentar invocar deus de uma maneira lógica.Agora, examino o primeiro e o terceiro argumentos, ou 'Primeira Via' e 'Terceira Via'.
Podia tê-lo feito juntamente com o post anterior, mas decidi não, pois tornaria o post muito grande, e a leitura desinsteressante.Mas poderia pois estes três primeiros argumentos são basicamente o mesmo argumento, mas com palavras e conceitos diferentes.
Vejamos :

1a. via - Primeiro Motor Imóvel Nossos sentidos atestam, com toda a certeza, que neste mundo algumas coisas se movem. Tudo o que se move é movido por alguém, é impossível uma cadeia infinita de motores provocando o movimento dos movidos, pois do contrário nunca se chegaria ao movimento presente, logo há que ter um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido, e um tal ser todos entendem: é Deus.

3a. via - Ser Necessário e Ser Contingente Existem seres que podem ser ou não ser, chamados de contingentes, isto é cuja existência não é indispensável e que podem existir e depois deixar de existir. Todos os seres que existem no mundo são contingentes, isto é, aparecem, duram um tempo e depois desaparecem. Mas, nem todos os seres podem ser desnecessários se não o mundo não existiria, alguma vez nada teria existido, logo é preciso que haja um Ser Necessário e que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser.


Ambos foram retirados do mesmo lugar que o argumento anterior.

Lendo a Primeira Via atentamente, vemos que 'motor' carrega basicamente a mesma idéia que a 'primeira causa', de sua Segunda Via.
Tomás afirma que, no nosso mundo, existem coisas que se movem.Uma coisa provoca movimento em outra, e assim numa série regressiva.Imaginemos uma mesa de sinuca, onde a bola azul está se movendo e cai na caçapa.Voltando atrás 'no tempo', vemos que a bola azul foi movida pela bola amarela, que por sua vez foi movida pela bola preta, que por sua vez foi movida pela bola branca, que por sua vez foi movida pelo taco do jogador.O jogado, portanto, foi o primeiro motor, embora ao pé da letra, ele não tenha sido movido por outras coisas também, mas abstratamente, podemos afirmar que ele foi o motor primeiro dessa série de movimentos.

Tomás, neste argumento, apela novamente para o problema da série infinita : se houvesse uma série infinita de bolas, cada uma colidindo com uma outra, nunca poderíamos visualizar uma bola em específico se movendo, pois sempre teríamos que retornar no tempo, infinitamente, de modo que, logicamente, essa série não poderia se sustentar sozinha.Torna-se necessária, então, a postulação de uma 'primeira bola', que não foi movida por ninguém, mas iniciou essa série de movimentos.

É um argumento bom, lógico, mas... onde está deus nisso? Porque Tomás deliberadamente afirma que esse primeiro motor que não foi movido é deus? Veja que ele simplesmente afirma que esse motor é um 'ser', e todos nós concordamos que este 'ser' é deus.
O argumento, por si só, serve para demonstrar que houve um primeiro motor que não foi movido por nada, mas ele não dá o direito a quem o usa a definir esse primeiro motor, a atribuir-lhe características.Eu não posso afirmar que esse ser é onisciente, ou que ele ouve nossas preces, ou que ele nos ajuda, ou que ele tem vontade deliberada, ou simplesmente qualquer outra característica.

Porque não afirmar que o primeiro motor foi o Big Bang, e ponto final? Ou que foi uma flutuação quântica de vácuo que moveu o Big Bang, e ponto final? Porque tem que ser um ser, e porque esse ser é imune ao argumento, ou seja, porque é JUSTAMENTE ELE que tem que ser o motor imóvel? Como garantir que ele também não foi movido por alguém, ou algo, que por sua vez foi também movido por alguém, ou algo, até que no final dessa série, tenhamos apenas um 'algo' desconhecido movendo tudo?

Como eu afirmei, apenas com uma boa dose de fé para engolir este argumento.

Agora, passemos para a Terceira Via.Mais uma vez, Tomás apela para o problema da regressão infinita.Ele afirma que tudo o que existe no mundo tem de ser fundamentado em alguma outra coisa, que não é fundamentada em coisa alguma, pois senão não resolveríamos o problema da regressão infinita.
Alguma semelhança com o 'motor imóvel'? Alguma semelhança com a 'primeira causa'? Todas, afinal, como afirmei, são o mesmo argumento, escritos com outras palavras.

Como de praxe, Tomás resolve este problema postulando que esta alguma coisa e deus, e ponto final, fim do argumento.Como engolir isso sem uma boa dose de fé? Como aceitar isso se você não acredita em deus, já que o argumento, por si só, nada evidencia da existência deste?

Existe diversas outras hipóteses para explicar a existência das coisas físicas, uma que eu mesmo cheguei a conclusão é de que tudo pode ser nada.Isso resolve, de maneira simples, a pergunta 'De onde veio tudo?'.Esse tudo é tudo e nada, ao mesmo tempo.
Imaginemos que tudo o que exista no Universo sejam partículas (o que não deixa de ser uma inverdade), mas apenas dois tipos de partículas, um elétron e um pósitron, sua antipartícula.O 'Universo' é apenas uma coisa abstrata, é apenas a maneira pela qual nos referimos às partículas, é apenas o conjunto delas.O elétron tem carga -e, e o pósitron tem carga +e.Para cada elétron neste Universo, existe um pósitron.
Pergunta : qual a carga total desse sistema? 0, ou seja, considerando todo o Universo, não existe carga, e existe, ao mesmo tempo.Isso porque +e-e=0, independente de quantos elétrons-pósitrons existam, pois sendo 'm' o número de elétrons que existem e 'n' o número de pósitrons, ((m)+e) + ((n)-e) = 0, pois m = n, como eu havia afirmado.
Agora suponhamos que todas as características do elétrons sejam 'anticaracterísticas' no pósitron.A massa o elétron seja anulada pela 'antimassa' do pósitron, e assim por diante.
Pergunta : O que existiria neste Universo? Nada, pois cada elétron se anularia com um pósitron, e restaria absolutamente nada, literalmente.Mas as coisas existem, embora no total, nada exista.

Isso responde a pergunta : 'De onde veio tudo?'.Não veio de lugar nenhum, pois tudo é nada, só que uma outra forma de nada.

Porque não considerar essa explicação, em lugar da de Tomás de Aquino? A minha, pelo menos, é mais científica.Porque não considerar outras explicações que tratam da mesma questão? Porque aceitar que esse algo necessário seja deus, e não simplesmente qualquer outra coisa sem vontade deliberada, sem inteligência, sem quaisquer outras características atribuídas a deus?

Repito, mais uma vez : estes argumentos apenas se fundamentam quando há fé.Sem fé, toda a lógica se demonstra ilógica.

Em um futuro post, analiso os outros dois argumentos restantes.

2 comentários:

Luiz Gadelha disse...

Estava estudando pra prova de HISTÓRIA da Filosofia de amanhã (2° ano do EM) e lendo as 5 vias, também notei que as 3 primeiras seguem o mesmo raciocínio e tive o mesmo pensamento quanto ao fato de esse "primeiro motor", como estabelecido na 1ª via, poder ser qualquer coisa, sendo exigido apenas que esta desse início a cadeia. Enfim, é bom ver outras pessoas com a mesma linha de pensamento que você. A propósito, ótimo post, bem fácil de entender.

Gabriel Orcioli disse...

Acredito que a palavra nada apenas refira-se a ignorância, já que o nada é algo que nós ainda não possuímos o conhecimento de saber o que é. Por isso usamos palavras como o 'nada' para explicar alguma coisa. E por causa disso, a ideia de deus ainda existe.

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