domingo, 24 de agosto de 2008

Vida - Parte 2

No post anterior, dei uma introdução de como a vida poderia ser explicada, sem necessidade de nenhum misticismo, transcendência, ou coisas semelhantes, simplesmente comparando-a a uma máquina, salvo as diferenças.Introduzi o conceito de E/S realizado pelos sentidos, e agora termino dando uma resumida no que penso a respeito do processamento destas informações por parte de nosso encéfalo.

Após as informações serem inseridas, pelo ambiente, em nosso processador central, através dos nosso sentidos, elas são sujeitas ao processamento.Como ocorre esse processamento, como são divididas as tarefas no encéfalo, é difícil explicar.Por exemplo, poderia haver um software de tratamento de informação primária.Esse software reconheceria a informação advinda dos cinco sentidos, e, baseado em regras ditadas pelo próprio encéfalo, ele encaminharia estas informações para suas áreas de processamento específicas.Isso talvez ocorra em algum animal, mas acredito que nos humanos e animais mais complexas, isso deva ser diferente.Temos áreas específicas que tratam cada tipo de informação (vinda da visão, tato, olfato), então é bem mais vantajoso que cada um desses sentidos já esteja diretamente ligado a cada uma dessas áreas para tratamento de informação específico.Isso permitiria que o encéfalo tratasse, ao mesmo tempo, de cinco bits de informação, uma advinda de cada sentido (vamos supor que cada área trate um bit por vez, de maneira serial).Já o mesmo não aconteceriam se todas as informações passassem antes por um software específico para reconhecer a que sentido pertence aquela informação e a que área deve ser destinada.O tempo de resposta do processamento paralelo é muito maior, e tempo é algo crucial para a sobrevivência.

Assim, acredito, é basicamente como ocorre a inserção de dados no encéfalo.Como disse, é muito difícil discorrer sobre como essas informações são processados, não sou neurocientista, então não me arrisco a aprofundar muito.Apenas teorizo que cada parte no encéfalo tenha uma programação específica.No caso da visão, por exemplo.A área responsável por processar as informações que provêm da visão realiza acessos a uma memória central, ou particular, afim de buscar alguma referência para aquele dado que está processando.Digamos que cervo esteja pastando tranquilamente, e de repente avista um leão a alguns metros de distância.Obviamente, a reação do cervo será correr desenfradamente, para salvar sua vida.Vemos aqui, a entrada de dados (a imagem do leão), um processamento e a resposta, ou saída (o cervo foge).Sou levado a acreditar que estes dados são processados da maneira como descrevi anteriormente : uma lista de predadores, os quais o cervo devem temer, encontra-se armazenada na memória deste cervo.No momento em que o cervo avista este leão, sua área específica da visão faz um acesso a memória, automaticamente, tentando descobrir que animal é aquele, que tipo de decisão deve ser tomada frente aquele dado.Ao verificar que o padrão do dado que está sendo processado bate com o padrão do predador leão, o software da visão automaticamente envia um alerta para um possível software geral que seja responsável pela tomada de decisões frente a situações de perigo."Leão a vista, fuja", e os impulsos para fugir são enviados aos músculos do animal.

Descrevi, de maneira muito simplista, como uma máquina biológica pode sobreviver frente a um ambiente, tendo como base um sistema de E/S e um processador central, com memória, para tomar decisões e analisar situações.Essa é a maneira que enxergo a vida.Não vejo necessidade de nenhuma outra explicação que misture transcendência, se, a priori, a vida pode ser facilmente enxergada e explicada dessa maneira.
Os que tem conhecimento sobre Biologia, conseguem enxergar que a construção dessa máquina é realizada pela seleção natural, um outro assunto muito extenso para abordar, no momento, aqui.

Esta é uma maneira interessante de encarar a vida.Esse tipo de interpretação dispensa a necessidade de sentido para a existência, uma vez que somos apenas construções biológicas promovidas por nossos genes, que foram selecionados pelo ambiente, sem qualquer finalidade, uma vez que as leis do Universo são cegas e sem objetivos.

Uma outra vez, possivelmente, retorno a esse assunto, para complementar mais coisas.Por hora, é só.

3 comentários:

Thiago disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Thiago disse...

o problema com os cervos (só para continuar no mesmo exemplo) é que eles não se angustiam, não sentem culpa, sequer se sabem cervos: não conhecem outra coisa que a imediatez, vivem exclusivamente para a espécie (não são Indivíduos), correm do leão não por decisão, mas por mera necessidade do instinto. e nós... ah, nós temos essa estranha tendência de "fazer aquilo que não queremos e querer aquilo que não fazemos". os cervos são, contudo - tenho que admitir -, animais bonitinhos e aparentemente felizes (o que já é muito mais do que muita gente alcançará). me lembro de um verso de um amigo meu: "ó vida, o que tens que sempre me escapa?". talvez boas e convincentes aulas de biologia na escola. vai saber...

Thiago disse...

como a sua objeção me pareceu pertinente, não quis ser leviano e sair respondendo assim de bate-pronto. tive que meditar um pouco. e o que pensei foi o seguinte:

1. nada mais natural que a minha visão seja antropológica. melhor dizendo, nada mais natural que a nossa visão assim o seja. só podemos enxergar o mundo com olhos humanos. projetamos nossos sentimentos e necessidades desde os deuses (se iram, se envaidecem...) até os animais (são carinhosos, sentem saudades...). não há outro meio de nos relacionarmos com o mundo a não ser pela familiaridade, isto é, o dispondo em categorias que nos são próprias, e fora das quais não há relação possível. no entanto, ainda que certos sentimentos ou qualidades que atribuímos aos animais, p.ex., sejam mais que meras projeções e apropriações nossas, ainda assim haveria certos sentimentos ou humores exclusivos dos seres-humanos. eu citei a culpa e a angústia. a angústia difere do medo porque enquanto este possui um objeto definido, aquela não. a angústia é sempre angústia do nada, do possível da possibilidade. a culpa está atrelada ao sentimento de que algo que não deveria ser feito, o foi. ainda: exige a internalização de valores como a do bem e a do mal, bem como a possibilidade de uma autocrítica. e na natureza, como bem sabemos, não há tais valores: há somente a legitimidade pela busca da sobrevivência. mas isso não é o mais importante. queria mesmo era comentar a questão da consciência.

2. o que está em jogo aqui não é exatamente se um animal é capaz da consciência espacial de si. e se admitirmos que a consciência possui diversos graus, então essa consciência dos animais é mais ou menos da mesma ordem que a das crianças (diria bebês). quando me referi à auto-consciência me referia a um tipo muito especial de relação: a consciência que se volta sobre si mesma. a consciência reflexiva, isto é, não a que se volta sobre o agente consciente, mas a que se volta sobre a própria relação de si consigo. isto, me parece, é uma especifidade dos humanos, melhor dizendo, uma possibilidade específica dos humanos, já que bebês, p.ex., não teriam tal possibilidade em ato. em uma palavra: a consciência reflexiva seria aquela que se conhece como tal.

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