domingo, 14 de setembro de 2008

Provando indiretamente - Parte 2

Após ter definido os requisitos mínimos para que algo possa ser objeto de análise (possuir efeitos e características), demonstrar como posso provar indiretamente a inexistência de algo torna-se uma tarefa bem simples.
Vou usar o deus cristão para demonstração.Antigamente, antes do advento da ciência, acreditava-se que o mundo havia sido criado em sete dias e que o homem tinha sido criado da maneira que é hoje, no Jardim do Éden (obviamente, me refiro ao período pós-Constantino, e não há milênios atrás na História, já que outros deuses existiam muito antes da criação do deus cristão).A criação do mundo e do homem eram atribuídas a um algo bem definido, Deus.Temos, portanto, características e efeitos, tornando esse deus cristão objeto passível de comprovação.Como já deve ter percebido, o segredo para comprovação indireta da inexistência é bem simples : demonstrar que a causa para um efeito atribuído a um algo, não é derivada desse algo, e sim de algum fenômeno natural.
Darwin, portanto, matou o deus cristão com sua teoria sobre a evolução.Veja bem, tinhamos, até então, um algo bem definido em suas características e a criação do homem era um dos efeitos atribuídos a esse algo.Portanto, Deus era um ser que vivia no céu, bondoso e onisciente, e havia criado os seres humanos, provendo-lhes alma com o sopro da vida.A partir do momento que Darwin demonstrou que somos frutos de uma evolução controlada por um processo cego chamado de seleção natural, intrínseco a estrutura do Universo, ele provou indiretamente que Deus, o ser que vivia no céu, bondoso e onisciente, e que criou o homem, inexiste.Não há espaço para deus na evolução humana, pois ela pode ser explicada pela evolução.Deus torna-se uma hipótese totalmente desnecessária.Crer que descendemos a partir de Adão e Eva, que foram criadas por Deus, da maneira como Gêneses descreve, é motivo para risadas e, diria mais, de pena.

Mas, se é tão fácil assim provar indiretamente que deus inexiste, então porque ainda existem tantos crentes nele? Primeiro porque, para quem crê, provas não significam nada.Se eu quiser acreditar que trovões são a ira de Zeus no Olimpo, podem falar o que quiserem, podem até mesmo criarem trovões em laboratório para me demonstrar que não passam de efeitos elétricos naturais, mas vou continuar com meus olhos tapados pela minha fé tola e vou continuar atribuindo trovões a ira de Zeus.E segundo, e mais importante, porque Deus, pelo menos o cristão, tem uma característica muito específica : se esconder nas trevas do conhecimento.É como baratas que fogem para debaixo da cômoda quando acendemos a luz.Em outro post futuro, detalho mais sobre os tipos de deuses existentes, mas para agora, basta adiantar que o deus cristão possui atrelado a si três grandes efeitos : a criação do homem, a criação da evolução do homem e a criação do Universo.
Até antes de Darwin, dois desses grandes efeitos eram conhecidos, a criação do homem e a criação do Universo.Pós-Darwin, que demonstrou que o homem não foi criado, e sim evoluiu, entrou em cena o terceiro grande efeito, a criação da evolução do homem.Agora que não era mais preciso Deus para explicar como o homem surgiu, pois tínhamos uma resposta natural para isso, surgiu a dúvida : mas quem deu origem ao primeiro ser que começou o processo evolutivo? Perceba aqui a analogia que fiz : antes, a luz da sala estava apagada e Deus, como uma barata, era livre para percorrer toda a sala em segurança.Darwin abriu a porta e acendeu a luz, ou seja, iluminou-nos com conhecimento, reduzindo a escuridão dos mistérios da Natureza, e Deus, que detesta a claridade, como baratas, correu para debaixo da cômoda mais próxima de si, afim de se proteger da luz.Deus correu para a lacuna mais próxima de si.Este é o verdadeiro deus das lacunas.

A idéia de deus preencheu o nossa ignorância sobre o começo do processo evolutivo, permanecendo, então, viva.Fora isso, o outro grande efeito, a criação do Universo, continuava também atrelada a idéia desse deus, pois não havia nenhuma outra alternativa natural para ela.Foi então que duas novas descobertas rasgaram nosso véu da ignorância mais um pouco : o começo do processo evolutivo foi teorizado por Oparin, e demonstrado em laboratório que é possível moléculas orgânicas surgirem espontaneamente em um cenário como o da Terra Jovem, novamente tornando-se desnecessária a intervenção divina, e a teoria do Big Bang, que foi demostrada por diversos cientistas, entre eles Hubble, que provou que o Universo está em expansão.A vida agora não precisa de mais nenhuma intervenção divina para ser explicada, e até mesmo o Universo já não precisava.Dessa vez, Oparin entrou em nossa sala imaginária com um holofote e, logo atrás, Hubble tirou os móveis.Deus então teve que correr e se esconder mais uma vez, em uma sombra que ainda permanece em nosso conhecimento, que seria 'Como o Big Bang funcionou?'.Deus, para muitos, é a resposta, embora já tenha sido demonstado várias e várias vezes que essa idéia é completamente desnecessária para explicar qualquer coisa que se prestava a explicar.

É importante ressaltar um fato que pode ter passado despercebido.Deus, no começo, era responsável pela criação do homem e do Universo.Após sucessivas comprovações científicas, Deus passou a ser o suposto criador do Big Bang.Este deus e o primeiro NÃO SÃO O MESMO DEUS.Eles podem compartilhar características, mas não são de maneira alguma o mesmo deus.Todos os anteriores morreram, todos foram comprovados inexistentes, mas esse continua ainda vivo.Crentes fanáticos e ortodoxos preferem tapar os olhos e ouvidos para a ciência, e continuar sua crença tola de que viemos de Adão e Eva e que a Terra tem 6.000 anos.Acho que deveria ser propostos para estes que abdicassem de tudo o que a ciência fez, afinal, consideram-a inútil, e fossem viver nus na floresta, levando consigo apenas uma bíblia (escrita a mão, obviamente.Se bem que lápis também são contribuições científicas à humanidade).Acho que pessoas assim merecem tanta atenção quanto os que estão internados em hospícios e julgam serem Napoleão.Já os teístas mais realistas, usam de diversos artifícios para não deixarem seu deus morrer.Propõem novas interpretações da Bíblia, afirmam que sua linguagem e simbólica e não deve ser interpretada ao pé da letra, entre diversas outras respostas estúpidas apenas para não terem que deixar de acreditar em idéias já comprovadas falhas.Porém, parecem desconhecer que o deus que acreditam agora, não é mais o mesmo de 300, 400 anos atrás.Esse já morreu e foi enterrado.Este novo é apenas uma versão moderna daquela idéia prosaica, bem como os deuses romanos eram apenas novas interpretações dos antigos deuses gregos.Seria isso um sinal de evolução? Estaríamos nós enxutando cada vez mais as idéias arcaicas de Deus e chegando cada vez mais próximo da sua verdade? Eu diria que não, afinal, Deus vem perdendo terreno a cada dia mais.Daqui a pouco não vai sobrar uma sombra sequer para a barata se esconder e acabará sendo esmagada pelos pés do último que retirou o móvel ainda existente.

É desnecessário demonstrar que este método serve para qualquer deus existente, bem como para qualquer entidade mágica que possa ser criada pela mente humana.

Um comentário:

Thiago disse...

apesar da metáfora da sala infestada por baratas (bom, na verdade é só uma) ser bonita, você pegou pesado. não só pela metáfora em si, mas sobretudo pelos qualificativos que acompanham (desnecessariamente) os sujeitos (seriam pacientes?) do seu ataque. ora, todo ataque é tanto mais elegante quanto menos ruidoso. retórica e 'ad hominem' combinam muito pouco com ciência. afinal, estamos aqui para conversar, e não para nos agredirmos (e olha que não penso em mim, que não fui atingido, mas nos seus possíveis leitores). no entanto, isso é apenas um 'toque' extra-oficial. leve-o na boa mesmo. não quero bancar o atalaia da moral e dos bons costumes. o blog é teu.

só dizer uma última coisa: cara, a sua convicção (repare bem a palavra que estou deliberadamente usando: 'convicção') na ciência é assustadora. o interessante seria que nos remetêssemos a uma discussão epistemológica concernente à ciência (em quais pressupostos se funda, até onde seus juízos são legítimos), e não ficássemos apenas no nível da apresentação de dados científicos. o buraco é mais embaixo.

ah, e só para registrar também que da mesma maneira que você não me levaria a sério se eu chegasse até você para debater sobre fisíca quântica (sobre os dados concretos dela) a partir da conversa que eu tive com um amigo que havia lido e me contou o que a revista "Super Interessante" dizia sobre o tema, assim também acontece quando você ataca a "teologia" do povão. não pode ser sério. você ficaria impressionado de saber com que sutileza de raciocínio se é possível defender os artigos da fé. em lugar de se indispor com bobeiras, procure as fontes sérias e confiáveis. leia a fundo. e depois sim ataque (se for o caso). se eu um dia quisesse discutir os dados da física quântica a sério contigo, não seria a partir da revista "Super Interessante"...

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