terça-feira, 9 de setembro de 2008

Provando indiretamente - Parte 1

No post anterior, argumentei como é impossível provar diretamente a inexistência de algo.Tentemos provar a inexistência de um Unicórnio Rosa Invisível, o URI.Não podemos apelar para a falta de evidências de sua existência, pois isto não prova a inexistência de alguma coisa.Um credor na existência de URI poderia dizer simplesmente que não temos tecnologia ainda para detectarmos Unicórnios Rosas Invisíveis, ou que sua existência está segura das vãs tentativas humanas de prová-la.Não existem provas da inexistência de algo, pois algo que não existe não deixa prova alguma disso.Independente de quantos rodeios tentemos fazer, ainda assim será impossível provar que inexistem URIs.É justamente por isso que o ônus da prova cabe àquele que afirma, pois podemos provar que algo existe, e nunca para aquele que nega, pois não é possível provar a inexistência de algo.Lembrando sempre que a posição de negação não precisa de justificativa.Não preciso ter outros motivos para não aceitar a existência de alguma coisa além do motivo intrínseco, a falta de evidências de sua ausência.Portanto, aquele que afirma que algo não existe, ou está afirmando equivocadamente, já que não se pode provar a inexistência de algo, ou chegou a essa conclusão baseando-se em provas indiretas, que é o que tentarei conceituar aqui.

Pegarei URI novamente como exemplo.Digamos que um credor em URI afirme que URI existe.Certamente, o credor em URI irá atribuir características a ele (já atribuiu quando o definiu como 'Rosa' e 'Invisível'), bem como atribuir efeitos atrelados a essa existência.Apenas afirmar 'URI existe' é uma proposição descabida de sentido.O que é URI? Como URI é? O que URI faz ou fez? Quando definimos algo, atribuimos a este algo características que o definem.Se eu disser que hoje vi um Smorgle, você não fará absolutamente idéia alguma do que eu estou querendo dizer, já que não 'Smorgle' é apenas uma palavra.Ao definí-lo, ao atribuir características ao Smorgle, será possível ter uma idéia do que eu quis dizer.Voltando ao caso do URI, o credor irá definir suas características e efeitos.É possível eu definir algo apenas pelas suas características, mas para provar a sua potencial existência, é necessário que eu também cite seus efeitos.Se eu apenas atribuir características aos Smorgle, não estou provando que ele potencialmente existe, apenas estou criando um algo baseado nas características que eu atribui.Para demonstrar que o Smorgle tem potência para existir, eu poderia pedir para que ele desse uma bofetada no amigo para quem contei que o encontrei.Ao receber a bofetada, eu afirmaria para ele 'Foi Smorgle quem deu'.
Portanto, eu acabei de definir uma coisa atribuindo características e efeitos.Um algo apenas com características é inútil, inexistente.Um algo com características e efeitos tem potencialidade para existir.Atente para a palavra que repeti várias vezes : potencialidade.Sim, um algo definido em suas características e efeitos tem potencial para existir, e não existe com certeza absoluta.No caso do Smorgle, um outro amigo meu fantasiado de Smorgle poderia tê-lo bofeteado.Smorgles, então, não existiriam.Seria apenas uma brincadeira entre eu e meu amigo.Inventamos um ser abstrato, atribuimos características a ele, que foram imitadas com uma fantasia e efeitos.Entretanto, isso não se mostrou uma prova da existência desse ser.

Concluindo essa primeira parte, para que algo possa ser considerado tendo potência para existir, é necessário que tenha características e efeitos.Um algo sem características e efeitos é como o Dragão da garagem de Sagan.E um algo que tenha apenas características não demonstra sua potencialidade de existência apenas por ter características definidas.Eu posso definir agora mesmo um Strubix, que é um ente mágico voador, que tem algumas dezenas de metros de envergadura de suas quatro asas e que tem garras bem afiadas em seus 10 pés.Eu apenas definir Strubix não demonstra que ele pode existir.Obviamente, Strubix é apenas criação da minha cabeça.Portanto, a combinação 'características' e 'efeitos' nos dá algo para pesquisar.Tendo algo bem definido juntamente com alguns efeitos atribuidos a esse algo nos dá as ferramentas para correr atrás das evidências da existência desse algo.

Na segunda parte, demonstro como URI e diversas outras entidades mágicas, como deuses, mesmo sendo inacessíveis a provas diretas, podem ser atingidos por provas indiretas.

2 comentários:

Thiago disse...

e quanto àquilo do qual posso constatar alguns efeitos mas cujas características me são, no entanto, desconhecidas? (não sei se é relevante pro tópico, mas fiquei com a curiosidade.)

B.M.A. disse...

Penso que essas características devem ser POSSÍVEIS de serem constatadas por você, ou seja, se você não vê então ela lhe é invisível, se você não sente seu cheiro, então ela lhe é inodora, essas características são pertinentes uma vez que você não tentaria provar sua existência para algum outro ser/animal - que tivesse a percepção diferente da sua - mas apenas a outro humano, por razões óbvias.

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