quinta-feira, 30 de abril de 2009

Onisciência x Livre-arbítrio - Parte 2

Na primeira parte do post sobre o paradoxo envolvendo onisciência e livre-arbítrio, introduzi o conceito do paradoxo que envolve deuses (ou qualquer criatura que julgue possuir onisciência) temporais, ou seja, que estão imersos na dimensão tempo, como nós.
Porém, existem duas possibilidades: ou o deus (ou a criatura) está imerso no tempo, ou seja, faz parte dessa dimensão, bem como nós, seres mortais, ou este mesmo ser NÃO está imerso nessa dimensão, portanto, é uma criatura atemporal, extra-temporal.
Quando o argumento do paradoxo onisciência x livre-arbítrio é apresentado, normalmente os teístas declaram-no como ineficiente, pois um deus que criou o próprio tempo não pode estar subjugado a ele.Este deus criador é, portanto, atemporal, e o paradoxo não se aplica a ele.Concluem eles, portanto, que a onisciência convive bem com o livre-arbítrio em um cenário onde um deus atemporal criou a estrutura espaço-temporal e encontra-se fora dela.

Eu, porém, tenho uma visão diferente.Não acredito que postular um deus atemporal sane o problema, pelo contrário, cria um novo problema, equivalente ao problema do deus temporal.

Um deus atemporal enxergaria o Universo temporal da mesma maneira que nós podemos pegar um rolo de filme (daqueles bem antigos, onde os quadros ficavam em sequência no rolo do filme) e enxergar todos os quadros do filme basicamente 'ao mesmo tempo'.Isto é, um deus atemporal, ao criar o Universo, imediatamente, como ser atemporal, vislumbraria toda a História da sua criação de uma vez só.Veria o começo, o meio e o fim deste Universo, e poderia percorrer cada 'quadro' deste 'filme' como bem quisesse.
Acredito que as ilustrações tornarão as coisas mais claras.






Uma vez que o deus vislumbre toda a História da sua criação, do começo ao fim, isso automaticamente anula nosso livre-arbítrio, pois este deus deu origem a sua criação com uma linha bem determinada de eventos, indo do começo ao fim, da mesma maneira que um roteirista entrega o roteiro pra os atores, e a história do filme correrá de acordo com aquele roteiro pré-determinado.Os atores não têm o livre-arbítrio para agir como bem quiserem, eles têm de seguir o que está pré-determinado no script.
Nós, da mesma forma, estamos seguindo um script já determinado pela criatura criadora de toda a História do Universo.
Não há, portanto, nenhum livre-arbítrio.

Se pudéssemos fazer as nossas escolhas livremente, teríamos o poder de surpreender o deus criador pois, para termos total liberdade em nossas escolhas, elas não podem estar pré-determinadas por ninguém.Mas não é isso que acontece num cenário onde um deus atemporal exista.
O que podemos ter é apenas uma falsa sensação de liberdade de escolha.Eu posso escolher um sabor entre dois sabores de sorvete.Eu acredito que tenho total liberdade para escolher, mas a criatura atemporal criadora da realidade já sabe, de antemão, qual será a minha escolha, e pior, foi ela quem criou todos os 'quadros' posteriores ao instante em que vou fazer minha escolha.Eu nunca tive o poder de escolher o sabor diferente do que eu escolhi.

Ainda existe uma outra possibilidade dentro desse cenário de um deus atemporal, baseado na interpretação de Everet para a probabilidade que rege o mundo quântico.Argumentarei sobre isso em um próximo post.

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