terça-feira, 19 de maio de 2009

O homem na caixa - Parte 1

Como eu já procurei demonstrar em três artigos anteriores, este, este e este, entendo ser perfeitamente possível que a ciência humana, esta mesma ciência responsável pela busca de respostas no mundo físico, possa também desempenhar o papel de árbitro no julgamento da validade de afirmações extraordinárias, especialmente as de cunho metafísico.

Normalmente, os defensores da existência de fenômenos não fundamentados no mundo físico justificam a ausência de evidências científicas para a realidade de tais fenômenos argumentando que a ciência, como produto do raciocínio humano, é limitada àquilo que nossos sentidos limitados conseguem captar, sendo, portanto, incapaz de alcançar uma suposta camada superior ao mundo físico.Eles costumam dizer, inclusive, que sendo a ciência tão limitada quanto nós, é impossível que ela consiga descrever a realidade da maneira que ela realmente é.

De certa forma, há verdades nessas afirmações, mas de longe elas podem ser tomadas como válidas de maneira que possam invalidar a ciência humana.
É perfeitamente entendido que existem dois tipos de realidades, a subjetiva e a objetiva (demonstrei a existência da realidade objetiva em outro artigo).Nós, como seres viventes imersos na realidade objetiva, podemos ter acesso às informações dessa realidade através de canais que absorvem tais dados e os transforma em informação cogniscível a nós.Esses canais são nossos sentidos.Diferenças na frequência de ondas eletromagnéticas são transformadas naquilo que chamamos de cores, por exemplo.
A ciência trabalha com a criação de modelos, que são os meios utilizados para descrever a realidade objetiva da forma como podemos entendê-la.Cientificamente falando, não faz diferença se, por exemplo, o elétron é diferente daquilo que imaginamos que seja, desde que o modelo criado para o elétron seja capaz de descrever perfeitamente seu comportamento e as interações que ele é capaz de fazer.Esses modelos são a forma utilizada para descrevermos as estruturas existentes na realidade objetiva.Como é impossível para qualquer ser que exista, ou venha a existir, entrar em contato direto com a realidade objetiva, isto é, sem que seja através da interpretação das informações pelos sentidos, modelos são o mais perto possível que podemos chegar da verdade.
É errado, portanto, dizer que nossos modelos são errados, que eles não descrevem a realidade como ela é e, portanto, são essencialmente inúteis.Graças a esses modelos chegamos ao nível tecnológico em que nos encontramos hoje, já que eles nos deram a capacidade de entender a realidade e manipulá-la a nosso favor.É claro que, como todas as coisas em ciência, tais modelos são efêmeros, e podem ser substituidos por novos modelos, melhores e mais completos, caso haja necessidade.Diferente dos defensores de realidades alternativas, a ciência não toma pra si o direito de decidir o que é verdade absoluta do que não é.

A grande questão é que estes modelos não estão limitados apenas na descrição de fenômenos puramente físicos, eles também podem ser criados para descrever fenômenos de cunho não-físico, desde que eles tenham influência no mundo físico.Vou criar uma parábola para exemplificar tal pensamento.

Suponhamos que exista uma caixa, cujas dimensões são irrelevantes.Dentro dela, é posto um bebê humano recém-nascido.Ele se desenvolve nessa caixa e atinge a fase adulta, quando estará com seu intelecto perfeitamente formado.A maneira como ele sobreviveu dentro dessa caixa sem ajuda de ninguém também é irrelevante.Dentro dessa caixa, apenas uma lâmpada no teto, que permanece acesa indefinidamente.A realidade a que esse ser humano tem acesso está limitada às dimensões dessa caixa.Como as sombras na caverna de Platão, esse homem acredita que sua vida é limitada a andar de um lado ao outro da caixa, banhado pela luz de uma lâmpada incandescente, pro resto de sua existência.Como não tem mais nada pra fazer, esse se limita a passar todo o tempo que está acordado a pensar.Ele então imagina que fora daquela caixa deve existir um mundo onde existão pessoas como ele, e elas dirigem veículos que se movimentam mecanicamente, e que existe algo grande e amarelo aparentemente imerso em algo azul, que fica acima de suas cabeças, e que ilumina tudo o que está abaixo, da mesma maneira que sua lâmpada incandescente.

Esse homem nunca poderá ter certeza se, de fato, existe uma camada externa de realidade, chamemos assim, a sua realidade acessível.Ele nunca poderá ter certeza se existem pessoas fora da caixa, se elas dirigem carros e são banhados pela luz do Sol.Ele pode até imaginar, criar hipóteses, mas elas nunca poderão ser tomadas como verdadeiras.Se pusêssemos um outro ser humano na caixa, um cético, que se permite o direito de tomar como verdade apenas aquilo que é acessível, o outro homem jamais poderia convencê-lo de que, de fato, existe um mundo externo a essa caixa.Não haveria distinção entre a fantasia do homem e a realidade que poderia existir.Ele poderia imaginar que, da mesma forma que pessoas semelhantes a ele, fora dessa caixa, se locomovem utilizando veículos automotores, existem pessoas que voam pelos céus utilizando seus cavalos mágicos, com asas e chifres, carinhosamente chamados de unicórnios.Qual seria o método utilizado para diferenciar estas duas coisas, classificá-las como possivelmente existentes e como puramente fantasia?

Em um próximo post, finalizo essa empreitada.

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